Tenho aprendido muito com as reportagens do canal Now, "Repórter Sábado". Desde as condições das casas lisboetas que recebem os imigrantes indostânicos, à forma como os "okupas" intimidam as famílias nos seus lares em novas espécies de sequestro, passando pelos externatos e escritórios e garagens que são ilegalmente usados para fins habitacionais, todas elas fazem a anatomia de fenómenos sociais dramáticos a partir de retratos vívidos concretos de algumas das suas vítimas. A de ontem à noite (que continua hoje numa 2ª parte) não foi excepção: as lojas de "souvenirs" em Lisboa, estabelecimentos de fachada para alegados esquemas de lavagem de dinheiro, onde os seus patrões exploram as elevadas condições de vulnerabilidade de cidadãos incautos da Índia, Paquistão e Bangladesh que pretendem ter a sua situação regularizada em Portugal e na Europa.
Que não estão isentas de acusações de sensacionalismo? Admito que sim. Ao fim e ao cabo, falamos de um canal pertencente ao grupo do Correio da Manhã, o que se parece reflectir em ocasionais momentos de uma certa tendência para a especulação ou para a hipérbole quando o máximo rigor informativo era exigido. Mas a intenção (e a efectiva concretização) do que são capazes perdoam essas falhas, tornando-os necessários instrumentos de denúncia da inércia, da lentidão, quando não da total indiferença, das instituições nacionais face a algumas das mais urgentes situações de que Portugal hoje está necessitado de resposta, destapando, limpando e erguendo algo que frequentemente precisamos para nos afastar de ataráxicos torpores colectivos: o espelho do nosso fracasso. E, por isso, não posso deixar de recomendar a visualização de cada uma delas.
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