quinta-feira, 20 de julho de 2023

«Perguntaram ao sábio chinês: "Mestre, qual é a banda vencedora da Batalha do Britpop: Blur ou Oasis?"

E o sábio chinês respondeu: "Ouve o sopro do vento nos juncos, o chilrear dos pássaros nas árvores, e o barulho das ondas no Oceano. Em todos eles, encontrarás a mãe Natureza murmurando sempre a mesma resposta: os Pulp."»

In "O Grande Livro Imaginário do Sábio Chinês Inexistente com Opiniões Análogas às Minhas", Duarte Mata

domingo, 16 de julho de 2023

Já há muito que tenho esta teoria: o teste do algodão que assegura a grandiosidade de um artista musical popular é ouvi-lo em acústico. Tire-se a complexidade das produções de estúdio da música contemporânea e avalie-se como se aguentam as canções naquilo que define o "back to basics": uma voz, uma guitarra e a força das letras. Quando bem-sucedida, uma versão acústica deixa a substância lírica e desempenho vocal melhor evidenciados, removendo o que antes estava ligeiramente abafado pelo arsenal electrónico que assegura a comercialidade de um "hit", para aproximar ainda mais o ouvinte das emoções, ideias e reflexões que levaram o cantautor a escrevê-la. Sei que são opiniões pouco consensuais, mas é por isso que faço parte do pequeníssimo grupo de pessoas que diz que o grande disco dos Nirvana é o "MTV Unplugged in New York" e que prefere o trio de álbuns acústicos pouco célebres do Springsteen ("Nebraska", "The Ghost of Tom Joad", "Devils & Dust") a alguns dos mais famosos e recordados ("The River", "Born in the USA", "The Rising").

Dito isto, o que peço para Maio é só uma coisa: que, no meio de todos os bailarinos, cenários, gruas, jogos estroboscópicos de luzes e outros componentes faustosos que caracterizam a megalomania broadwayesca de um concerto da Taylor Swift, haja tempo - nem que sejam apenas 5 minutos de glória confessional como estes - para a simplicidade do ambiente intimista de uma mulher iluminada por um modesto holofote a meio da noite, a sua fiel guitarra e as histórias que tem para cantar. E nós com ela.

sábado, 15 de julho de 2023

Eu não tinha nenhuma opinião formada quanto à actual greve em Hollywood. Agora, tenho uma: espero que não haja pressa em terminá-la.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

No princípio de 2022, optei por deixar de ser "crítico de cinema" internético, tendo terminado amigavelmente a colaboração de alguns anos com o À pala de Walsh. Desde então, não voltei a escrever ou a falar publicamente sobre filmes (o que aqui é escrito são só bojardas, e esporádicas sessões onde participei como moderador não contam), o que levou o país a beneficiar com isso. As provas? Nesse ano, o programa de vacinação contra a Covid foi completado com sucesso, a pandemia rapidamente deixou de ser assunto, e Portugal cresceu 6,7% na economia, o valor mais elevado desde 1987.

Incapaz de ver a manifesta relação de causalidade entre uma decisão individual e o bem-estar da nação, o António Araújo quis-me tirar, temporariamente, do meu refundido eremitério, convidando-me para dialogarmos sobre o novo Indiana Jones no seu podcast Segundo Take. Se a NATO declarar efectivamente guerra à Rússia, e Portugal for fatidicamente obrigado a recrutar e enviar civis para combater, culpem-no a ele.

sábado, 1 de julho de 2023

Aquilo que caracteriza um filme do James Mangold é o seguinte: há uma personagem com um defeito físico particular, símbolo somático da insegurança, do medo, do cansaço, em suma, de alguma espécie de vulnerabilidade que o herói mangoldiano traz dentro de si, o que o leva a entrar numa jornada pessoal de auto-superação: "Heavy", um cozinheiro obeso que tenta dizer a uma rapariga que a ama; "Copland", um xerife semi-surdo que luta contra a corrupção policial da sua cidade; "3:10 to Yuma", um rancheiro de pé amputado que leva um bandido procurado a uma locomotiva; "Logan", um mutante de corpo envenenado que transporta uma criança para longe da violência. E em "Indiana Jones and the Dial of Destiny" é um arqueólogo envelhecido que tem de salvar o mundo dos nazis uma última vez.

É um filme do Indy? Sim. E, tão ou mais importante do que isso, é também um filme de James Mangold. Foi possível ter-se, se não o melhor, algo pouco longe disso, dos dois mundos. Que se arrume o chicote e o chapéu Fedora de vez.