domingo, 30 de abril de 2023

O Linkedin alertou-me para uma alternativa ao ChatGPT que não envolve subscrição chamada HuggingChat. Estive a testá-la como se deve testar este tipo de plataformas: com base num tema que se conhece relativamente bem.

Comecei por lhe perguntar se sabia quem era o Ricardo Araújo Pereira. Respondeu-me que era um futebolista, nascido em 2000, que jogava no Arouca (?!). Disse-lhe que não, que era um humorista português. Ele agradeceu-me a correcção e disse que sim, que era um humorista, mas nascido em 1987 e actor de filmes como "Dia de Pagar o Pato" (??!!). Corrigi-o mais uma vez, afirmando-lhe que tinha nascido em 1974 e que fez parte de um grupo de comédia chamado "Gato Fedorento". Ele pediu-me desculpa pelo erro e deu-me razão: fez parte do "Gato Fedorento", um grupo co-criado pelo Nuno Markl, pelo Marco Horácio e pelo Vasco Graça Moura (???!!!), complementando que se tinham separado em 2005 mas que se tinham reunido para várias edições do Festival da Canção (?!x∞). Já ligeiramente enervado, corrigi-o de novo, dizendo-lhe que o "Gato Fedorento" tinha sido criado por Ricardo Araújo Pereira, Zé Diogo Quintela, Tiago Dores e Miguel Góis, em 2003, num blog, e que se tinha expandido para programas de sketches televisivos. O chat lá voltou a desculpar-se e afirmou que o "Gato Fedorento" tinha começado na Sic Radical e que passou para a RTP1, a única informação correcta até aqui, a qual rapidamente ficou eclipsada pelos novos dados errados que providenciou: o Zé Diogo Quintela deixou o grupo para se dedicar ao cinema e o grupo continuou como um trio, desenvolvendo uma plataforma digital onde os utilizadores interagiam entre si. Passei-me com o bicho, e a forma como esta conversa terminou (é dele a última frase) fez-me pensar se eu próprio não estive a viver um sketch escrito por estes rapazes.

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Chateei-me com os The National por alturas do "Sleep Well Beast", onde cada música parecia só uma chuva desinspirada no molhado musical do que era o estilo de melancolia-dançante-com-gravata-desfeita-e-perfume-a-Johnnie-Walker-no-colarinho-de-camisa-suada da banda sem se arriscar a chegar às alturas estratosféricas que alguns dos álbuns anteriores atingiam na totalidade (“Boxer”) ou sequer na parcialidade (“Trouble Will Find Me”). Depois, reconciliei-me com "I Am Easy To Find", onde os monólogos sofridos, cheios de dúvida, inquietação e vulnerabilidade de Matt Berninger davam origem a diálogos fluidos, melífluos e de igual intimidade, com várias vozes femininas convidadas, nota a nota e métrica a métrica, a construírem um jogo dialéctico, simultaneamente acusativo e resignado, rumo ao que aparentava ser qualquer coisa como a pacificação possível. Apesar da duração extensa, era uma tentativa bem-sucedida de desbravar novo terreno artístico, uma presença que interrompia o isolamento introspectivo do grupo no seu quarto meio obscurecido, abrindo-lhes as cortinas, puxando-lhes as persianas, enquanto lhes afirmava olhos nos olhos: "Já chega. Sentemo-nos e ponhamos isto em pratos limpos de vez."

"First Two Pages of Frankenstein” tem, para mim, como característica principal a de padecer dos defeitos de "Sleep Well Beast" (em certas faixas a solo) mas também a de possuir as qualidades de "I Am Easy to Find" (em todas as canções que envolvem convidados*). Ou, dito de outra maneira, o novo disco é um passo atrás e um passo em frente no trajecto dos The National. Quer isso dizer que ficaram no mesmo sítio? Sim. Mas não é um sítio nada mau para se estar. Hoje em dia, é o que peço aos artistas de que gosto: se não conseguem fazer tudo melhor, pelo menos garantam que não façam tudo pior. E, se possível, que esse melhor consiga deixar mais marca do que o restante.

*de onde de destaca este dueto com uma tal de Taylor Swift. É sempre bonito ver uma grande banda auxiliar a divulgação de uma artista desconhecida.

domingo, 23 de abril de 2023

Há 20 anos, começava um pequeno abanão na blogosfera lusitana que, pouco tempo depois, se expandiria sob a forma de um estrondoso terramoto para a realidade portuguesa inteira. Um terramoto caracterizado por frases que o tempo se encarregou de tornar parte da cultura popular ("Falam, falam, falam, falam.", "Qual papel? O papel.", "Eu vou chamar o sr. Tobias") e por personagens inolvidáveis que tão bem sumarizam alguns dos maneirismos cómicos ainda encontrados por este país (o Gajo de Alfama, o Professor Chibanga, o-homem-a-quem-aconteceu-não-sei-o-quê).

É uma aproximação subjectiva sem qualquer rigor estatístico, mas os anos mostraram-me que 4 em cada 5 rapazes "millenials" tiveram parte da personalidade influenciada pelo Gato Fedorento. Está na ironia, no tom, na escolha das palavras, no modo como sabem que (perdoai-me o plágio, Gertrude Stein) "uma piada é uma piada é uma piada" e que nenhum tema é demasiado sério para ser exclusivamente levado a sério. O outro tipo desses 5 é o perdigueiro melindroso, incapaz de ver um sketche humorístico sem procurar pelo mínimo indício de odor problemático que o faça latir "homofobia!", "transfobia!", "xenofobia!", entre outras tantas "obias" que cerceiam o que pode e deve ser a comédia. Infelizmente, uma geração depois (ou terão sido apenas as redes sociais?), as proporções parecem ter-se invertido, e hoje, em cada esquina internáutica, lá ronda um polícia da virtude com o livro de multas moralistas sempre pronto a utilizar, lembrando-nos, no seu discurso de PIDE do politicamente correcto, que "não, senhor, piadas é só sobre quem está no poder".

Sei que o Dia da Liberdade é só depois de amanhã, mas olhem, para mim, a liberdade está também em fazer-se humor sobre tudo. Por isso, não levem a mal que também seja hoje que a celebre.

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Há 40 anos, os R.E.M. lançavam o seu álbum de estreia: "Murmur". Sobre ele, anos depois, o saudoso bloguista Pedro Mexia definia-o como um disco "a que apetece dar seis estrelas em cinco."

Como assim só seis em cinco?

sábado, 8 de abril de 2023

Schopenhauer: Quero muito conhecer-te melhor. Gostarias de jantar comigo um destes dias?

Mulher: Oh, Schoppie... És um querido e sinto-me verdadeiramente tocada pelo teu convite. Mas só te vejo como amigo. Espero que não leves a mal e que compreendas.

Schopenhauer: Claro, claro. Não te preocupes. Está tudo bem.

Schopenhauer, uma semana depois:

sábado, 1 de abril de 2023

Ultimamente, tenho andado a passar tempo no "Linkedin" 🕧

Apesar das diferentes origens das várias publicações, frequentemente há o recurso ao mesmo formato 🧠

Nomeadamente, o de escrever apenas 1 ou 2 frases por parágrafo 📝

Mesmo que o texto do seguinte seja uma continuação evidente da ideia expressa no anterior 👆

E a incapacidade de acabar uma oração sem colocar "emojis" no lugar de pontos finais 😵

Esta maneira de escrever é uma 💩