quarta-feira, 31 de março de 2021

Andava aqui a reler excertos da autobiografia do Sternberg, "Fun in a Chinese Laundry", e deparei-me com esta (insólita) história cinéfila:

«O que dizer a um grande número de pessoas será sempre um problema. Neste âmbito, Marcel Pagnol é o centro de uma divertida anedota. Para o seu laboratório, em Marselha, foi levado um negativo para ser processado. Terminada a revelação, descobriu-se que o filme era pornográfico. Quando o cliente ligou para aceitar a entrega, este foi abordado por Pagnol, que lhe disse para nunca mais escurecer a soleira da sua porta. Desanimado com a reprimenda, este realizador balbuciou que, para ele, era um golpe ser privado da elevada qualidade técnica que distinguia a fábrica de Pagnol. Com a simpatia despertada pelo infeliz comerciante, Pagnol começou a puxar conversa com ele e, curioso, perguntou-lhe se não era extremamente difícil encontrar actores para um filme desse género. O homem suspirou profundamente e disse: “Ah non, monsieur. Le sujet! Le sujet! O meu problema não são os actores, mas encontrar a história apropriada."»

domingo, 28 de março de 2021

A propósito da entrevista do RAP ao Carlos Moedas: não me incomoda que alguém tenha trabalhado na Goldman Sachs nem me afecta que alguém atenda telefonemas do Ricardo Salgado. Agora, que alguém manifeste total desinteresse por Monica Bellucci, dizendo "Ela tem já uma certa idade"? Ah, aí sim, sei que essa pessoa não é de confiança.

quinta-feira, 25 de março de 2021

Ao pé disto, o Whitman é um menino

GOOD GENES


"All men are created equal”

Well it’s not true


Some are smart, some aren’t

Do we believe in the gene thing? I mean, I do!

I’m blessed with good genes


Good (great) brain. Good-sized hands. German blood.

We have people that are stupid

They cannot help the fact that they were born fucked up

Slow horses don’t produce fast horses

terça-feira, 23 de março de 2021

Alguns dirão que é a capacidade de voar. Outros, que se trata da sua força sobre-humana. E há até aqueles que falarão na sua invulnerabilidade quase total. Tudo tretas, digo eu. O maior poder do super-homem é, esse sim, ser namorado da Amy Adams.


domingo, 21 de março de 2021

O cinema americano das últimas décadas vive uma crise tremenda: se, por um lado, está dotado de mulheres lindíssimas, por outro, não menos abastado está de cineastas incapazes de lidarem com tanta beleza. Serve isto para falar do "Driven" do Renny Harlin (filme com o grande Stallone que ainda não tinha visto) e do papel que nele ocupa Estella Warren, deslumbrante actriz de rosto vermeeriano, ombros de nadadora e boca voluptuosa (foi o Ebert que escreveu: "os seus lábios poderiam amortecer uma desagradável queda"). Como é que Harlin não lhe devota o máximo de tempo permitido a uma actriz secundária, estudando afincadamente as suas expressões faciais radiantes ou fazendo-a interagir com o espaço em pequenos gestos capazes de espelharem a sua graciosidade e elegância? Ao invés, salvo um bonito momento de natação sincronizada, só lhe restam as tiradas banais e previsíveis do argumento, acompanhadas por uma câmara semi-irrequieta com os seus zooms, travellings e refocagens, assim como mil e um cortes nas cenas de diálogo para os espectadores com défice de atenção, anulando, em boa parte, o impacto estético da contemplação paciente da sua anatomia facial. Não estou a rogar por um Woody Allen a lambuzá-la de laranjas crepusculares, mas é evidente que se pedia maior respiração nos planos, maior paciência da câmara, maior inércia da montagem para haver concentração na candura deleitosa da sua face lisa, deixando o espectador ser minado e contaminado por ela.

E lanço a questão: que dupla realizador/actriz no cinema americano de hoje se equipara a Sternberg e Dietrich, a Griffith e Gish, a Hawks e Bacall, a Quine e Novak? Será que, tirando o Allen, não há um realizador capaz de construir odes e sonetos de celulóide à beleza feminina das suas musas? Será que o mais perto que temos disso é o O. Russell e a Lawrence? É pouco. Actrizes como a Warren, a Gadot, a Adams, a Chastain ou a Fox merecem algo infinitamente melhor do que a efemeridade dos cheques chorudos para projectos menores que lhes batem à porta: a imortalidade da verdadeira grandeza cinematográfica. Porque, citando o que Pedro Mexia escreveu, há uns anos, sobre a frequentemente desaproveitada Johansson: "Não basta ser uma obra-prima. É preciso, também, fazê-las."

domingo, 14 de março de 2021

Para além do Lang, do DeMille, do Dwan, a gloriosa Debra Paget também fez um filme com o Tourneur: "Anne of the Indies" (na imagem). Como é que não há comboios de cinéfilos, académicos, biógrafos, jornalistas, documentaristas, apresentadores de TV (e outros que tais) a formarem-se à porta de casa desta senhora, implorando-lhe por histórias de bastidores ou relatos do método de trabalho de alguns dos pioneiros e mestres do cânone, é algo que estará sempre para além da minha compreensão.

quinta-feira, 11 de março de 2021

No novo filme do Woody Allen, "Rifkin's Festival", há um momento rápido onde uma actriz está a ser entrevistada no Festival de San Sebástian, colocando-lhe a entrevistadora a mui peculiar questão: "No filme, todos os seus orgasmos são efeitos especiais?" 

Certo, é um momento cómico, mas a verdade é que, para quem já andou por festivais de cinema, sabe que este tipo de jornalista com questões de nível altíssimo e relevância superlativa anda, de facto, por aí. O que me faz querer interrogar aos meus amigos cinéfilos com experiência festivaleira: qual foi a pergunta mais caricata a que assistiram ser colocada (fosse numa entrevista, numa roundtable, numa conferência de imprensa...)? 

Eu posso começar: no dia 14 de Fevereiro de 2017 (e já vão perceber como é que memorizei a data), na conferência do "Lost City of Z" que aconteceu na Berlinale desse ano, houve um repórter que pediu o microfone, levantou-se calmamente, olhou para o Robert Pattinson e disse: "Robert, hoje é dia dos Namorados. Pergunto-te: nesta data, costumas receber muitas prendinhas?" E, sem dizer mais nada, sentou-se e devolveu o micro.

segunda-feira, 8 de março de 2021

Apareceu-me um texto muito interessante do Bright Wall/Dark Room sobre os "X-Files" (é verdade, embora não veja séries, já fui o que o jargão da Internet apelida de "X-phile"). Após a sua leitura, deu-me a nostalgia, tirei a minha colecção da estante e lancei a questão: "Se eu quisesse rever todas as temporadas, quanto tempo me levaria?" Uma pesquisa rápida na Internet deu-me a resposta: 218 horas. E comecei a fazer contas mentais. 218 horas são 109 filmes de 2 horas. Isto quer dizer que, mais hora menos hora, poderia ver, usando este tempo: cada título da lista de "os 100 melhores filmes de sempre" da Sight & Sound (ou de qualquer outro meio); todos os filmes do Hitchcock 2 vezes; a obra sonora completa do Hawks 3 vezes (e ainda sobrava para parte da muda); um mega-ciclo francês feito das carreiras integrais do Rohmer, Truffaut e Chabrol; assumindo uma média de 22 projectos de longa-metragem de ficção financiados pelo ICA por ano (dados de 2018), todas as longas-metragens portuguesas dos últimos 5 anos.

O resultado? Voltei a arrumar as temporadas na estante, de onde tão cedo não deverão voltar a sair.

sexta-feira, 5 de março de 2021

"Anita protege a Natureza", Gilbert Delahaye & Marcel Marlier



Anita Ekberg por Andre de Dienes, 1954

Numa formação sobre técnicas de apresentação em público, reparo que confundo frequentemente o termo "púlpito" com o de "patíbulo". Tal troca de conceitos tem uma justificação fácil: para péssimos oradores como eu, uma coisa equivale à outra.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Gosto muito daquela história (que levou à célebre fotografia do Richard Avedon) onde a editora da Vogue, Polly Allen Mellen, à procura de inspiração para uma sessão com a Nastassja Kinski, perguntou à actriz se ela gostava de alguma coisa em especial. Resposta simples e directa dela: "I like snakes."

Lawrence / Weisz / Kinski