Para usar a propósito das mais variegadas ocasiões (jogos desportivos, resultados eleitorais, cerimónias de prémios cinematográficos, ou a maneira correcta de consumir rebuçados).
Plano de Conjunto
domingo, 17 de março de 2024
sábado, 16 de março de 2024
Nunca é tarde para mudar de vida profissional. Por exemplo, o brasileiro Alexandre Frota. Eis um ex-actor pornográfico, mais conhecido em Portugal por ter entrado n'"A Quinta das Celebridades", que escolheu ir, há uns anos, para a política, tendo chegado ao cargo de deputado federal. Fica a prova de que até alguém com um emprego numa área de respeitabilidade dúbia, suja, sórdida e degradante (por vezes, violenta) pode ter uma carreira na pornografia.
segunda-feira, 11 de março de 2024
Só vi os resultados quando acordei. Ainda não me recompus. Pensava para mim, "Trata-se, claramente, de um vendedor de banha da cobra. As pessoas nunca irão atrás dele." Sabia que poderia haver casos irresponsáveis que se tornariam na excepção. Mais do que isso, conheço alguns deles. Mas nunca imaginei que pudesse escalar para este tão preocupante nível. Quão enganado estava. Eu tento (juro que tento) ter cultura democrática e respeito pelas opiniões dos outros. Mas se, mesmo assim, os debates já chegavam a níveis pouco higiénicos e recomendáveis, como é que serão daqui em diante? É caso para reflectir aonde chegámos... O Nolan ganhar o Óscar de melhor realizador.
domingo, 10 de março de 2024
Dia de Eleições
«Na base de todos os tributos prestados à democracia, está o pequeno homem caminhando rumo a uma pequena cabine, com uma pequena caneta, para fazer uma pequena cruz num pequeno pedaço de papel.»
Winston Churchill
domingo, 25 de fevereiro de 2024
Ainda nem 20 minutos passaram e já me sinto agradecido pela visão de Paul Newman a beber uma lager fresca, dos seios despidos de Reese Witherspoon, de Newman e Gene Hackman a permutarem bojardas quanto ao uso de camisas masculinas cor-de-rosa, e de John Spencer e Stockard Channing a compartilharem o mesmo espaço de um escritório fora do "The West Wing" (série que proporcionou muitas horas de genuíno júbilo e instrução a estes lados). Os pequenos prazeres dos filmes desequilibrados são como os da vida: a idade ensina a apreciá-los na sua plenitude e a ser-se menos exigente com o todo que os rodeia.
Twilight (1998), Robert Benton
domingo, 18 de fevereiro de 2024
Diário de Singapura: Dia 7
Estava sozinho quando falava sobre Singapura em jantares de amigos. Tecia-lhe sinceros elogios partindo da história do seu sucesso: a de uma cidade-Estado excluída de uma fugaz federação malaia que, forçada à independência e sem uma economia forte nem meios naturais capazes de assegurar a total auto-suficiência, conseguiu o enorme prodígio de, não só sobreviver, como transitar de um nível terceiro-mundista para um de primeiro.
Falava da estratégia de Lee Kuan Yew, o primeiro-ministro da região por 30 anos que conduziu a nação neste processo evolutivo. Para combater o elevado desemprego, a sua administração implementou políticas de industrialização que produziram numerosos postos de trabalho. Poucos anos depois, na época das multinacionais, Kuan Yew deslocou-se aos EUA com a mensagem de que a mão-de-obra singapurense era eficiente, barata e orientada pelos valores confucianos de lealdade e respeito ao próximo, aliciando os empresários americanos a colocarem as suas fábricas naquela região, a qual publicitava como um ponto geográfico estratégico de entrada no mercado asiático. Resultou: a taxa de desemprego tornou-se residual, o investimento externo aumentou, a economia cresceu e o país tornou-se numa referência mundial. E isto sem sacrificar aspectos do Estado social.
Falava das políticas que correram bem em áreas onde em Portugal ainda apresentam problemas: na saúde, um sistema que encaminha parte do salário para uma conta específica a ser usada em clínicas e hospitais pelo próprio utilizador; na habitação, construção intensiva fomentada pelo Estado, assegurando que, graças ao cariz social de boa parte do parque de habitação, ninguém ficava sem tecto; na natalidade, incentivos à classe média e alta a terem mais do que 2 filhos, nomeadamente por benefícios fiscais e prioridade no acesso às escolas de interesse em cenários competitivos; nos tribunais e na polícia, compensações salariais elevadas que tornaram as carreiras mais atractivas e blindadas à corrupção. Kuan Yew não era um idealista de esquerda ou de direita, mas sim um pragmático que aplicava medidas de esquerda e de direita. O estadista ideal para um tipo de centro como eu.
Sabia de alguns excessos nas suas leis (a proibição de pastilhas, as vergastadas aos delinquentes, a pena de morte aos traficantes de droga) e não os escondia, mas afirmava que Portugal poderia trazer algumas das políticas para cima da mesa do debate público sem atraiçoar os seus princípios. Não necessariamente implementá-las, mas, pelo menos, discutir a sua viabilidade. Ainda acho que pode ser feito, mas, olhando para os programas eleitorais destas legislativas, só um é que menciona Singapura como exemplo para uma área estratégica (o Volt, no âmbito da habitação). Não quer dizer que os grandes partidos não estejam de olhos neste ponto do sudeste asiático. Quando rebentou o caso João Galamba, enquanto futilmente se discutia à exaustão se o antigo ministro, no regresso de uma viagem profissional por Singapura, havia realmente ameaçado fisicamente um assistente e se deveria ser dispensado do cargo, a minha questão era só uma: "Qual foi a razão daquela viagem?" Ainda hoje não temos resposta. E devíamos. É que, entre outros países, foi Singapura quem auxiliou a China nas suas reformas capitalistas pós-maoístas, contribuindo significativamente para a transformar numa das principais superpotências económicas. A sua atitude é de cooperação internacional, fornecendo conselhos a quem os procura. Terá sido a procura deles o motivo da deslocação do antigo ministro das infra-estruturas? E, se sim, em que âmbito?
Deixei-me, em suma, levar pelo canto do leão-sereia, ao ponto de, no auge do meu ingénuo entusiasmo, ter enviado currículos e cartas de motivação para diferentes empresas ali estabelecidas. Nunca obtive qualquer resposta. Estou, hoje, contente que assim tenha sido. Viajando e confrontando-me com o presente e não com o passado, com a realidade e não com a ilusão, aquilo que em tempos foi para mim um modelo político de referência revela-se, actualmente, um protótipo para uma tecnoutopia distópica de intimidação psicológica e monitorização quase permanente. São 109.000 câmaras para 6 milhões de habitantes. 18 câmaras para 1000 pessoas. E esperam aumentar para 200.000 na próxima década. Junte-se a estes dados o inumerável número de placas e plaquetas sobre multas e proibições e experiencia-se como tanta segurança deixa uma pessoa insegura. Posso estar errado, mas antevejo que, num futuro não muito distante, os media passarão a dar mais atenção a Singapura e deixarei de estar sozinho a falar sobre ela aos jantares. Só duvido de que seja enquanto caso de sucesso.
PS: Termino este diário de viagem com a fonte do aeroporto ("HSBC Rain Vortex" é o seu nome) com que o iniciei. É das visões mais bonitas que um país pode receber uma pessoa. E despedir-se dela também. Olhar para ela recorda-me do bom que encontrei por aqui: a sua inovação, o seu verde, a sua generosidade, a sua beleza. Apesar de tudo, não deixa de ser um país bonito e recomendável para conhecer. Por agora.
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024
Diário de Singapura: Dia 6
Esta não é a unica proibição de sentido discutível. Andando pelos diferentes tipos de espaços públicos singapurenses, é frequente encontrar-se pelo menos um aviso associado a uma qualquer interdição. Nas escolas, a de fumar a menos de 5 metros da porta delas. Nos campos de basquetebol, a de jogar após as 21h30. Nas casas-de-banho públicas, a de deitar lixo no chão. Nas zonas de restauração, a de abandonar tabuleiros sujos. Nos transportes, a de comer e beber. Nas ruas, a de magoar voluntariamente alguém, a de consumir álcool fora dos horários pré-determinados ou a de atravessar as estradas fora das passadeiras. O efeito psicológico destes sinais, como o das placas e câmaras CCTV, é o de uma intimidação silenciosa, um alerta discreto que sussurra, "Nós estamos a ver-te", alerta esse que, não por acaso, já me havia explicitamente deparado numa placa policial daqui e que instantaneamente me lembrou do mote de "1984": "O Grande Irmão está a ver-te." A tecnoutopia distópica de Singapura também se sumariza assim: o resultado do cruzamento da Disneyland com o magnum opus de George Orwell.
É por isso que acho corajosa a exposição, numa modesta loja em Little India, de uma t-shirt que adverte para um conjunto de restrições do país e das consequências dos respectivos incumprimentos, que, consoante o tipo de delito, vão da multa à pena de morte, passando pelas vergastadas. É uma t-shirt que está não só visível como também colocada de forma ao transeunte comum poder facilmente ler o seu conteúdo. Escondê-la-ão os seus vendedores quando as forças policiais passam por aquela rua? Ou estas últimas crerão que contribui para o efeito psicológico mencionado, usando-a em seu benefício? Independentemente da resposta, creio que há que saudar o facto de ainda não existir um sinal de interdição para ela. Pelo menos, por enquanto.
Esta t-shirt não é, no entanto, o que mais se destaca de Little India. Entrando em Tekka Centre, observa-se um microcosmo do comércio e da cultura indiana, com os comensais a almoçarem com as mãos, as mulheres em grupo vestidas com os seus sáris ou a parte do mercado ostentando, para venda, o encantador vestuário típico do país. Depois da Arab Street e de Chinatown, esta zona reforça a impressão que L. comigo já partilhara: a de que Singapura é um excelente ponto de partida para um ocidental conhecer o Oriente, tamanha é a paisagem cultural rica e diversificada oferecida.
PS: Para quem só lê este diário de viagem aberto para obtenção de recomendações turísticas, fica mais um par delas. As Peranakan Houses, pequeno aglomerado de coloridas habitações suburbanas que trazem à memória os Palheiros da Costa Nova; e o centro comercial Ngee Ann City, cuja labiríntica livraria disponibiliza uma selecção de mais de meio milhão de livros, tornando-a num autêntico Toys R Us para bibliófilos.