sábado, 27 de abril de 2024

Em todos os programas de comentário político que acompanho, dedica-se demasiado tempo (para não dizer todo) para discutir os últimos comentários infelizes do presidente português. E não se dedica o suficiente (para não dizer nenhum) para discutir a trágica lei recém-aprovada pelo parlamento britânico que permite a deportação de imigrantes ilegais para o Ruanda.

O primeiro tema é capaz de ocupar 30 minutos de um programa. O segundo, nem a 3 segundos tem direito. Se, como tantos dizem, somos uma sociedade rendida às superfícies e às frivolidades, também é porque a televisão, quando devia ser mais substancial e dar provas de relevância, demasiadas vezes nos ensina a olhar para o mundo dessa maneira.

(Felizmente, há os cartoonistas do POLITICO Europe. O humor faz mais pela democracia e pela consciência social do que muito programa sério. Mas isso já eu sei há anos.)

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Longo. Repetitivo. Por vezes, superficial. É manifestamente um passo atrás depois daquele que era um dos seus melhores discos, "Midnights", ter conseguido conciliar a sua sensibilidade lírica mais inspirada (a de "Folklore" e "Evermore") com as suas produções mais contagiantes (a de "1989" e "Lover"). Para quem é vista como o maior monólito da cultura pop contemporânea, cujo impacto vai do crescimento do PIB norte-americano à origem de crises diplomáticas no sudeste asiático (e, quiçá, ao auxílio da reeleição de Joe Biden para a Casa Branca), é difícil negar o travo a (não grande, mas também não ignorável) decepção. O grande pop é como a grande cola: agarra-se com força e recusa-se a desprender. Infelizmente, comigo, a maioria do álbum "The Tortured Poets Department" soltou-se mal acabou a primeira audição...

...o que não impediu de encontrar algumas excepções: 

"You're not Dylan Thomas, 

I'm not Patti Smith 

This ain't the Chelsea Hotel, 

We'rе modern idiots."

terça-feira, 9 de abril de 2024

Não faço a mínima se irei gostar do "Deliver Me From Nowhere", o biopic musical (sim, eu sei, é outra pandemia que para aí anda) de Scott Cooper sobre a origem e gravação do "Nebraska" do Bruce Springsteen. Mas gosto muito dessa história, de uma estrela de rock já famosa e bem-sucedida que, apesar de estar bastante confortável com uma banda e dominar toda a parafernália eléctrica de estúdio, decide regressar ao básico, gravando-se apenas a si, à sua guitarra e às histórias que tem para contar num gravador de cassetes, no seu quarto, obtendo como resultado final um dos seus melhores discos. E ouvir isto numa sala escura, com boas colunas, enquanto são projectados os créditos finais, deve providenciar uma das mais satisfatórias sensações à saída de um cinema. Independentemente do que a anteceda.

domingo, 7 de abril de 2024

Gostava de ter gostado do "All of Us Strangers". A culpa não é do filme, mas sim minha e da memória de outro do ano passado que se recusa em esvanecer: "Aftersun". As tangentes entre um e outro são, no mínimo, tentadoras de delinear, não apenas na presença compartilhada de Paul Mescal, mas também na de uma atmosfera de remorso e saudade que, gradualmente, vimos a compreender como componente formal de um violento luto não superado, o qual condena os seus protagonistas a perambular sorumbaticamente num limbo existencial entre passado e presente. São ambos, em suma, filmes de fantasmas. Mas onde "Aftersun" era-o subtil, "Strangers" é-o explícito; onde "Aftersun" aventurava-se no laconismo das ferramentas cinematográficas, "Strangers" estira-se na verbosidade do argumento; onde "Aftersun" confiava na interpretação do espectador, "Strangers" receia a incompreensão do mínimo elemento; onde "Aftersun" continuamente navegava no rio da experimentação, "Strangers" raramente não se afunda no lodaçal do cliché.

E, apesar de parecer para lá caminhar, apesar de lá estar tão perto, em nenhum dos 106 minutos de "Strangers" há a explosão emocional que estes 3 de "Aftersun" contêm.

sábado, 6 de abril de 2024

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Comecei a investir em criptomoeda. Após pesquisar a fundo, parece-me, finalmente, ser um activo compreensível, transparente e rentável a curto e longo prazo, em nada relacionado com as minhas suspeitas iniciais de que se tratava de um esquema-pirâmide tecnologicamente sofisticado à espera de desabar mal rebentasse a respectiva bolha. Quão enganado estava! Espero, com os garantidos lucros obtidos, poder ainda capitalizar no inovador e insuspeito mundo dos NFTs.

Estou a brincar. Feliz dia das mentiras, amigos.

domingo, 24 de março de 2024

Quando visito museus de arte contemporânea, não são raras as vezes em que me lembro daquela frase do Woody Allen em "Anything Else": "Se uma pessoa subir ao palco do Carnegie Hall e vomitar, haverá sempre um tipo disposto a chamar àquilo de arte."