(Em Pizzaria Limonete, Peso de Régua)

Pediram-me uma curta autobiografia para uma apresentação*. Foi o que se arranjou.

*Dia 15 de Outubro, pelas 17h, estarei na Casa das Artes de Famalicão (www.closeup.pt) para falar um pouco do livro de Paul Schrader recentemente traduzido para português: "O Estilo Transcendental no Cinema". Obrigado ao Vitor Ribeiro pelo convite.

Só hoje me ocorreu que este Allen menor, que termina com um realizador profissionalmente ostracizado nos EUA a partir para França e a aceitar tornar-se um cineasta europeu, deve ter envelhecido muito bem.

(Nunca mais chega dia 5.)

Hollywood Ending (2002), Woody Allen

Coup de Chance (2023), "" ""

O novo "Missão Impossível" começa com um vídeo do Tom Cruise e do Christopher McQuarrie a agradecerem aos membros da audiência por terem vindo ver o filme em sala. É uma boa ideia e que me estimula uma outra que já tarda em chegar: a de um vídeo, no final, onde o realizador e o actor principal pedem desculpa pelo resultado. Um exemplo:

Realizador: "Cara audiência que permaneceu até ao fim da sessão, muito agradecemos o vosso esforço."

Actor: "Bem sabemos, isto foi fraquinho, mas não houve tempo para mais..."

Realizador: "Houve interferências do produtor..."

Actor: "O meu ego foi problemático na rodagem..."

Realizador: "E eu, claramente, não sabia onde colocar a câmara."

Actor: "Por isso, muito obrigado por acreditarem e terem despendido do vosso tempo e dinheiro. Infelizmente, não, não levam daqui melhor do que isto."

É um fraco consolo? Talvez. Mas, minha nossa, os cinéfilos por esse mundo fora bem sabem como o merecem.

O POLITICO pediu a alguns candidatos às presidenciais norte-americanas de 2024 para apresentarem uma lista com as suas 20 canções favoritas. Percebo tanto de política internacional como de música (nicles), mas aprecio a estratégia de desvelar um pouco da personalidade de cada candidato por uma forma de arte popular universalmente admirada. E, se tomar como hipotético critério de avaliação a similaridade dos gostos deles com os meus (não é esse o objectivo de listas assim?), então é possível tirar algumas conclusões. 

Por exemplo, que há esperança de redenção para o Trump de Silicon Valley, Vivek Ramaswamy, porque gosta de Mozart e Woody Guthrie; que a Nikki Halley corre o risco de ser uma candidata irritante porque tem lá o "Dancing Queen"; e que, após o debate das primárias republicanas, tinha razão em ter o Chris Christie como o meu favorito dessa facção partidária. É que, para além de uma lista fácil de simpatizar (Beatles, Rolling Stones, os U2 dos 80s...), a canção que ele coloca no topo do pódio é aquela que eu coloco no topo do meu: "Thunder Road" do Bruce Springsteen. Sei bem do que fala a canção. E sei bem o que faz alguém colocá-la nesse sítio. Tudo isto para dizer: na noite de 5 de Novembro de 2024, se este senhor estiver a concorrer, então que me perdoem os amigos democratas por estar a torcer pelo Partido Republicano. É mesmo pelos melhores motivos.

(O conjunto das listas pode ser consultado aqui.)

"I'm God thinking about God thinking about Steve McQueen." Nick Cave

Não tinha ainda visto o "Le Mans" por culpa do documentário sobre ele feito décadas mais tarde, que olhava para o objecto como um mero filmito de culto e de rodagem atribulada totalmente sucumbido à vaidade do seu protagonista. Apanhei-o no Fox Movies e deu-me vontade de vituperar: "Ide-vos coçar bem fundo, sô documentaristas!" É um filme tão lacónico e "cool" quanto o seu actor, cinema depurado pelo seu despojamento de diálogos e de artifícios teatrais para predominar um trabalho de enorme fisicalidade na montagem e banda de som, que faz o ecrã caseiro mais pacato parecer dotado de um sistema dolby-surround-7.xxx-ou-lá-como-se-chama-aquela-treta-cujo-anúncio-passa-antes-das-sessões-nos-cinemas-NOS. Ao pé disto, o "Ford v Ferrari" - bom filme, nada contra - parece uma longa-metragem do Botelho.

Le Mans (1971), John Sturges & Lee H. Katzin