quarta-feira, 25 de maio de 2022
sábado, 21 de maio de 2022
Diz a Marvel ao Raimi: "Faz o cross-promotion obrigatório aos nossos filmes, séries e merchandising."
Responde o Raimi à Marvel: "'Tá bem, mas deixem-me colocar ângulos holandeses, zooms abruptos, planos subjectivos e sobreimpressões maradas."
Diz a Marvel ao Raimi: "Mete daquele humor auto-referencial destinado às nossas legiões de geeks."
Responde o Raimi à Marvel: "'Tá bem, mas deixem-me criar uma cena com o Bruce Campbell destinada aos meus fãs. Afinal, estão há 9 anos a aguardar um novo filme deste menino."
Diz a Marvel ao Raimi: "Executa um clímax barulhento e a abarrotar de efeitos visuais com demonstrações exacerbadas de super-poderes."
Responde o Raimi à Marvel: "'Tá bem, mas deixem que esse clímax pareça remeter aos meus 'Evil Deads' e 'Drag Me to Hell'."
É um jogo de ping-pong permanente entre um estúdio e um cineasta. Que o resultado seja um empate, já não é nada mau hoje em dia.
quinta-feira, 19 de maio de 2022
Não sei como foi viver o Maio de '68, mas sei um pouco do que foi ouvir os seus sons, muito graças a este álbum (o primeiro a solo de Vangelis): uma colagem musical feita de passos, cantos, conflitos, disparos, sirenes e outros elementos sónicos que caracterizaram o ardor, a euforia, o optimismo (mas também o perigo, o caos, a violência) do movimento estudantil francês, ocasionalmente intercalada com os órgãos e pianos típicos do compositor.
É uma homenagem sincera ao espírito "soixante-huitard", uma viagem no tempo acústica a um revolucionário evento geopolítico, um lembrete arrojado da força que acarreta um grupo de pessoas quando acreditam e pelejam pelos seus ideais. Mas talvez o maior elogio seja também o mais simples: é um disco tão bonito como o título que carrega, roubado a um slogan grafitado por entre as barricadas de pedras e carros erguidas, "Faz com que o teu sonho seja mais longo do que a noite".
É o "meu" Vangelis e por isso com ele deixo a minha despedida.
domingo, 8 de maio de 2022
Peido monogatari
Quando se fala em cultura japonesa, é comum recordarmo-nos dos temas mais respeitosos: a família, a honra, a ordem social... Esquece-se, no entanto, de um tópico recorrente em vários dos seus objectos culturais: a flatulência. Sim, sim. Gases, puns, traques. Pesquisem por "He Gassen" (longos pergaminhos de alguns séculos que apresentam figuras humanas a expelirem nuvens perfumadas para os rostos umas das outras); leiam haikus como este de Yamazaki Sokan: "Even at the time / When my father lay dying / I still kept farting"; recordem que uma das obras-primas do Ozu - o "Ohayô" - tem tantas bufas como um filme de acção tem tiroteios. A tradição continua e, nos últimos anos, encontramos concursos televisivos sobre "quem dá o maior peido". Televisão de qualidade dúbia que, ainda assim, é menos escatológica que os inúmeros programas de "reality TV" por cá exibidos.