terça-feira, 29 de agosto de 2023

Sim, eu sei. Ainda me estou a recompor. Dificilmente se falará noutra coisa nos próximos dias. E com razão. Passa-se anos a imaginar algo assim e a questionar quais as probabilidades: 1 num milhão? 1 num bilião? 1 num gazilhão? E depois, quando acontece, é preciso dar um par de estalos na própria cara para garantir que não se está a dormir. Não estou mesmo. Preciso de respirar fundo. Até me custa a escrevê-lo. Com tanta emoção, não sei se consigo. Mas cá vai uma tentativa: dia 6 de Setembro, às 21h30, irei apresentar a sessão d'"O Exorcista" para falar um pouco do William Friedkin, a propósito do ciclo "in Memoriam" que o Cinema Medeia Nimas lhe dedicará. Obrigado, António, pelo convite.

(Ah, e é verdade. Na semana a seguir, o Ricardo Araújo Pereira e o Woody Allen estarão à conversa pela Cinemateca. Também parece ser giro e coiso.)

sábado, 26 de agosto de 2023

Para quem não viu o debate das primárias republicanas, eis um breve sumário do estilo de cada um dos 8 candidatos através de hipotéticas respostas a uma eventual questão colocada por mim: "Ananás na pizza: bom ou estupidez?"

Ron DeSantis: "Enquanto governador da Flórida, estive várias vezes em múltiplas pizzarias. Falei com os cozinheiros, escutei os empregados de mesa, ouvi a comunidade italiana residente no meu estado. E farei o mesmo quando for presidente. Próxima questão."

Vivek Ramaswamy: "Não sou como os políticos profissionais, que já estão comprados. Sou um empreendedor de sucesso que sabe pensar pela sua própria cabeça. Posto isto, a minha opinião sobre o ananás na pizza é aquela que o Trump tiver."

Chris Christie: "A minha opinião sobre o ananás na pizza é aquela que o Trump NÃO tiver. Trump mau. Trump feio. Minha nossa, como detesto o Trump."

Mike Pence: "Quando fiz o juramento com a minha mão sobre a Constituição, disse 'Meu Deus, dai-me força para fazer a avaliação sensata sobre questões de enorme relevância como a do ananás na pizza'. E tenciono fazê-lo."

Nikki Haley: "Não interessa se ananás na pizza é bom ou estupidez! Interessa é que também importamos ananases da China! É dinheiro que estamos a dar à economia chinesa!"

Doug Burgum: "De acordo com a 10ª emenda da Constituição, a compatibilidade do ananás na pizza é algo que temos de deixar nas mãos das pessoas para ser decidido."

Tim Scott: "Temos recebido ananás ilegal pela nossa fronteira do Sul. As nossas pizzas esperam ananases cumpridores de todos os trâmites legais. Eu irei construir o muro de Trump para acabar com o ananás ilegal de vez. Enquanto como uma Havaiana."

Asa Hutchinson: "Boa noite. Obrigado pela questão. Já vos disse que sou advogado?"

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Muitos portugueses indignados com este momento do novo filme (parcialmente rodado em Lisboa) com a Gal Gadot, "Heart of Stone". Para mim, é o melhor das duas horas inteiras.

Duarte Mata após 2h40 de espera à porta da Loja do Cidadão, juntamente com duas centenas de outros indivíduos, para a obtenção de uma senha para aquele dia. A cobri-lo, vestígios da eficiência actual dos serviços públicos portugueses.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Acabou-se. Após 7 meses de esforço, persistência e disciplina, dei-me por derrotado diante um momento de fraqueza. 7 meses a enveredar numa reabilitação personalizada auto-imposta, 7 meses a conseguir olhar sem vergonha o rosto que se ergue ao espelho, 7 meses a dominar a vacilação do corpo ao ser confrontado com a tentação de levar para casa aquele prazer refundido capaz de projectar para um sítio tão próximo da estratosfera. Tudo em vão. Foi o Matthew Perry, alguém que também conheceu o vício à sua maneira, que o escreveu na sua autobiografia: "Uma vez perfurada a membrana da sobriedade, o fenómeno do desejo entra em acção e partes para as corridas uma vez mais."

7 meses depois, a membrana foi quebrada. Regressei às corridas. Perdoa-me, mundo. Voltei a comer chocolate.

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Ouvir-se-á falar muito sobre "O Exorcista", "The French Connection" ou "To Live and Die in LA" nos próximos dias. Mas a "finest hour" do Friedkin foi o Coppola quem a soube identificar, há uns anos, quando lhe perguntaram que filme tinha visto que o fez questionar se alguma vez faria algo ao seu nível. Respondeu o autor da obra-prima "O Padrinho Parte III": «"The People vs. Paul Crump". Eu nunca fiz um filme que salvasse a vida de um homem, mas o Billy [William] Friedkin fez.»

Para quem não conhece a história: em 1953, cinco homens assaltaram uma fábrica e mataram um polícia. Paul Crump foi um dos homens apanhados no local, acusado de homicídio e condenado à cadeira eléctrica. O Friedkin fez esse filme para provar aquilo que acreditava ser a sua inocência. O governador de Illinois, Otto Kerner, ao ver o resultado final, ficou "profundamente comovido" (palavras do próprio) e garantiu-lhe clemência.

Já ouvimos, e sempre num sentido metafórico, a expressão de que determinado filme (e há tantos) mudou a vida de alguém. Mas que a tenha reconcedido num sentido literal, só conheço dois (o outro, claro, é "The Thin Blue Line"). Que Friedkin tenha mostrado ao mundo que o cinema também tem esse efeito é talvez o mais bonito e importante legado que um realizador possa deixar.