segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Diário de Singapura: Dia 2

A primeira palavra que ocorre quando se está em Singapura é "controlo". O controlo subentendido nos recorrentes avisos de multa e proibição; o controlo patente nos cartazes que ameaçam com penas de cadeia para práticas que vão do "shoplifting" (furtos em lojas) ao "touting" (tentativa insistente de venda de um produto por abordagem directa); o controlo explícito nas câmaras de vigilância presentes nos cantos de cada esquina, nas entradas de cada edifício, nos tectos de cada estabelecimento, nos topos de cada semáforo, nas laterais de cada autocarro ou nos troços de cada vintena de metros de estrada. É dificílimo, para não dizer impossível, dar um espirro sem alguma câmara "dome" ou "bullet" poder servir como testemunha.

A segunda palavra que ocorre é "beleza". A beleza da mistura entre a botânica e o betão; a beleza das ruas limpas e paredes desprovidas de vandalísticas pichagens; a beleza da heterogeneidade de formas dos prédios com as suas superfícies mais ou menos vidradas; a beleza da Fountain of Wealth, da mesquita da Arab Street, do memorial de 4 colunas às vítimas da ocupação japonesa na 2a Grande Guerra ou da arquitectura paisagística da região inteira vista por uma cabine da roda gigante do país. É facílimo, para não dizer certo, soltar uma expressão de admiração com a pulcritude e nível de detalhe de cada elemento relevante desta cidade-estado.

É neste balanço entre as duas palavras que se define Singapura e o apelo turístico a alguém ocidental, espécie de Disneyland para adultos, parque de diversões gigante e hipermonitorizado onde as suas atracções se definem pela possibilidade de um país belo, seguro e eficiente com o custo do bilhete ao preço de parte da liberdade. É uma utopia? É uma distopia? Um pouco de ambos é o mais adequado, talvez. E, por isso, não raras vezes me lembro da piada sobre dois cães que nadam, em direcções opostas, nas águas entre Singapura e Bornéu. Ao cruzarem-se, o cão que nada rumo a Bornéu questiona a razão de o outro se dirigir a Singapura. Responde ele: "Ah, os centros comerciais, a habitação, o ar condicionado, o sistema de saúde, a educação. E por que razão te diriges a Bornéu?" Diz o cão de Singapura: "Oh, eu só quero ladrar."






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