domingo, 26 de novembro de 2017

Sorcerer

Quanto mais William Friedkin vejo, mais me convenço da redutibilidade que há no epíteto de "o realizador d'O Exorcista".

Dito isto, e acabado de sair do abanão austero existencialista de William Friedkin, Sorcerer, é de louvar a perfeita domação de tempo e espaço da cena em que o camião do título atravessa uma ponte de madeira, onde o físico dos homens se contrapõe à violência natural (quem nunca sentiu a chuva ao ver um filme, tem aqui uma boa oportunidade para descobri-la), num misto arrepiantemente realista de som e fúria. É ver cada posição de câmara restringindo a acção ao seu ponto mais cru, sem deixar de encontrar uma fotogenia própria e vivamente agressiva com a paisagem que a circunda. Ou ainda, a incerteza conclusiva que predomina em cada plano, devidamente mesurada numa montagem precisa, salientada pelas densas camadas do som dos motores em heterogeneidade com a tempestade punitiva que se abate sobre eles.

E que dizer do filme? Prova de que um remake pode ser, no mínimo, tão bom quanto o original (O Salário do Medo), por simplesmente manter alguns pontos narrativos em comum, mas usando-os perversamente para abarcar uma visão mais cínica do mundo, com o espírito de camaradagem abafado e onde nem a redenção é suficiente para impedir a entrada dos erros passados pela porta do salão onde se faz a última dança.

Chef d'oeuvre!, apetece gritar. E talvez a melhor coisa a sair do fatalismo da Nova Hollywood que envolva uma filosofia ontologicamente discreta personificada por veículos, juntamente com o sublime The Driver.



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