quinta-feira, 15 de abril de 2021

 Como se não bastasse a acumulação gargantuesca de clichés, a interpretação cabotina e histriónica de Sean Penn, a estilização da violência que o faz parecer um copycat de Zack Snyder, Ruben Fleischer também tinha de meter, em "Gangster Squad", aquele que é o "raccord" de mais mau gosto do cinema americano deste século: os miolos que saltam de uma personagem morta por um black & decker para o vidro rugoso onde está encostado, cortando o cineasta para um hambúrguer atirado para a grelha de uma churrasqueira. A verticalidade das linhas do vidro a unir-se à dos ferros da grelha, e a textura da mioleira humana a associar-se ao da carne picada para consumo. Será o Fleischer um vegetariano que pretende estimular, pelas possibilidades da montagem, os espectadores a adoptarem um regime alimentar que exclua definitivamente a chicha ("não, querida, não vou comer mais hambúrgueres porque me fazem lembrar o cérebro arrancado de um certo filme medíocre") ou é apenas dotado de um sentido de humor morbidíssimo que em nada se enquadra no tom do filme que faz? De qualquer das maneiras, acho que ando a ler demasiado Daney.




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