sexta-feira, 2 de abril de 2021

No que toca à escrita sobre cinema (e vá, também à vida), gosto bastante de fel, de azedume e de acrimónia. Se é entusiasmante quando lemos um crítico apaixonado pelo filme que viu, esforçando-se, pelo ofício da escrita, para tentar transmitir o amor sentido pela obra aos seus leitores, não menos entusiasmante é a situação oposta, quando o pobre escriba encolerizado usa a sua pena para efeitos terapêuticos, na esperança de que o leitor compartilhe, nem que seja um pouco, da sua crispação. Alguns dos meus momentos predilectos: quando o Ebert escreveu que preferia uma colonoscopia ao "The Brown Bunny"; quando o Luís Miguel Oliveira apontou que as capacidades olfactivas do Danny Boyle limitaram-se a matéria escatológica para o "Slumdog Millionaire"; e - aquela que é, possivelmente, a maior ofensa lançada a um cineasta - quando o Hugo Gomes definiu o Terrence Malick como o "Pedro Chagas Freitas do cinema". A esta lista, passo a juntar as duas (repito, duas) linhas que o David Thomson dedicou ao Richard Donner no "New Biographical Dictionary of Film". 

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