sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Sputum, miraculum

Das várias histórias dos bastidores do cinema, uma das menos conhecidas é a da primeira exibição do Couraçado Potemkine, no Teatro Bolshoi, em 1925.

Estava Eisenstein na sala de montagem com o período definido de 3 semanas para a edição do filme prestes a findar, quando, inesperadamente, se lhe termina a cola com que trabalhava o final da película. Com medo de misturar os fragmentos soltos que o compunham e na esperança de que se tratasse de uma situação temporária eis que, num gesto açodado, cola estes pedaços com o seu revolucionário cuspe.

Mas os dias passam, o nosso guedelhudo de eleição entrega assim mesmo o seu trabalho e não mais se lembra do seu erro até àquela noite fria de Dezembro no dito teatro. Quase a entrar em pânico, diz para si enquanto percorre, nervosamente, os corredores do edifício: "Pedaços de filme virão a voar do projector! O final será sufocado, assassinado!" Como reagiria a audiência a este violento desfecho?

Eis então que chega a derradeira bobine e... "um milagre! O cuspo aguenta! O filme corre até ao fim! Quando voltámos à sala de montagem não acreditámos nos nossos olhos - nas nossas mãos os fragmentos separavam-se sem o menor esforço e, no entanto, tinham sido unidos por uma força mágica à medida que corriam, como um todo, pelo projector."

Um filme colado a cuspo que se aguenta até ao fim? Ora, eis uma boa definição de "milagre".

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