Há 40 anos, os R.E.M. lançavam o seu álbum de estreia: "Murmur". Sobre ele, anos depois, o saudoso bloguista Pedro Mexia definia-o como um disco "a que apetece dar seis estrelas em cinco."
Como assim só seis em cinco?
Schopenhauer: Quero muito conhecer-te melhor. Gostarias de jantar comigo um destes dias?
Mulher: Oh, Schoppie... És um querido e sinto-me verdadeiramente tocada pelo teu convite. Mas só te vejo como amigo. Espero que não leves a mal e que compreendas.
Schopenhauer: Claro, claro. Não te preocupes. Está tudo bem.
Schopenhauer, uma semana depois:
Ultimamente, tenho andado a passar tempo no "Linkedin"
Por um lado, sei que já não tenho estofo para o cinema cada vez mais sobrecarregado do Wes Anderson. Sobrecarregado de planos, sobrecarregado de diálogos, sobrecarregado de personagens, sobrecarregado de adereços, aquilo que era uma obra singular onde olho e coração, forma e conteúdo, imagem e palavra, caminhavam num mesmo sentido tornou-se, para mim, num mero bombardeamento de cenas visualmente rigorosas mas emocionalmente estéreis, uma corpulenta receita de esteróides feitos de composições opulentas, expressões "blasé" e papéis de parede coloridos que tornam a experiência de visualização num exercício cansativo de barroquismo maximalista.
Por outro lado, Scarlett Johansson.
Que a crítica de cinema enquanto actividade profissional tem os dias contados, não tenho, infelizmente, muitas dúvidas. Posso estar errado (quero estar errado), mas veremos o que acontecerá quando os veteranos de cá escolherem largar irreversivelmente as canetas: estarão os jornais para onde escrevem dispostos a renovar os seus quadros nesta secção? Ou, numa altura em que a própria subsistência da imprensa já viu melhores dias, e onde não escasseiam estratagemas para evitar colocar os "colaboradores" como efectivos, irão, pelo contrário, agradecer e assegurar a redução de custos? Nesta época onde proliferam e se atropelam as opiniões na cacofonia das redes sociais, e onde se dá uma incompreensível importância aos "influencers" ao ponto de convidá-los para as mesmas cerimónias que profissionais da indústria, que relevância cultural tem hoje o crítico de cinema a não ser para segmentos de nicho muito específicos?
Um amigo meu diz-me que ainda não viu o "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo". Digo-lhe que, embora tenha gostado, recomendo-o a ainda não se arriscar a vê-lo. A razão? Simples. Vi-o quando estreou em Abril passado e não nos últimos meses. O prazo de validade para uma visualização de mente aberta, livre e imparcial está temporariamente expirado, e se o "hype" era considerável há um ano, no entretanto atingiu uma tamanha dimensão gargantuesca que o espectador informado dificilmente não se verá forçado a entrar céptico e relutante à euforia. Há uma diferença abissal entre entrar numa sala sabendo que se vai ver um filme independente bem recomendado e um monopolizador das temporadas de prémios brutalmente publicitado. Não se reagirá ao filme, reagir-se-á às reacções que o filme suscitou. E, por isso, creio que a altura certa para se ver um filme é antes de este se transformar num fenómeno cultural ou após deixar de o ser. O que está entre um momento e outro pouco tem a ver com cinema.