domingo, 27 de abril de 2025

Tenho aprendido muito com as reportagens do canal Now, "Repórter Sábado". Desde as condições das casas lisboetas que recebem os imigrantes indostânicos, à forma como os "okupas" intimidam as famílias nos seus lares em novas espécies de sequestro, passando pelos externatos e escritórios e garagens que são ilegalmente usados para fins habitacionais, todas elas fazem a anatomia de fenómenos sociais dramáticos a partir de retratos vívidos concretos de algumas das suas vítimas. A de ontem à noite (que continua hoje numa 2ª parte) não foi excepção: as lojas de "souvenirs" em Lisboa, estabelecimentos de fachada para alegados esquemas de lavagem de dinheiro, onde os seus patrões exploram as elevadas condições de vulnerabilidade de cidadãos incautos da Índia, Paquistão e Bangladesh que pretendem ter a sua situação regularizada em Portugal e na Europa.

Que não estão isentas de acusações de sensacionalismo? Admito que sim. Ao fim e ao cabo, falamos de um canal pertencente ao grupo do Correio da Manhã, o que se parece reflectir em ocasionais momentos de uma certa tendência para a especulação ou para a hipérbole quando o máximo rigor informativo era exigido. Mas a intenção (e a efectiva concretização) do que são capazes perdoam essas falhas, tornando-os necessários instrumentos de denúncia da inércia, da lentidão, quando não da total indiferença, das instituições nacionais face a algumas das mais urgentes situações de que Portugal hoje está necessitado de resposta, destapando, limpando e erguendo algo que frequentemente precisamos para nos afastar de ataráxicos torpores colectivos: o espelho do nosso fracasso. E, por isso, não posso deixar de recomendar a visualização de cada uma delas.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Na "Trump Store", a loja online de Donald Trump que vende o "merchandise" da sua marca, já há produtos à venda para as eleições de 2028. Suspeito que nenhum deles venha acompanhado de um papel com a 22ª Emenda da Constituição. Aquela que diz "nenhuma pessoa poderá ser eleita para o cargo de presidente mais de duas vezes".

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Dado que estamos em época de eleições, é hora de ler os programas eleitorais para procurar eventuais "tesourinhos". Comecemos pelo da AD. O gráfico em baixo (pág. 25) pretende comparar o crescimento real alcançado do PIB em 2024 pelo actual governo com os previstos pelos programas do PS e da AD de então. O que é curioso aqui? A manipulação de escala, que faz o gráfico começar nos 1,2% e não nos expectáveis 0%. O resultado é o de uma 3ª barra consideravelmente maior do que as outras duas (mesmo que as diferenças sejam só de 0,4% e 0,3%, respectivamente), transmitindo a ilusão de um desempenho genial face ao esperado, a qual seria consideravelmente atenuada se os gráficos começassem efectivamente do 0.

Se isto vos soa familiar, eu recordo-vos: o Partido Socialista esteve envolvido em polémica, há 4 anos, por um gráfico manipulado da mesma forma sobre o número de vacinas administradas por 100 pessoas na Covid e o seu destaque face à UE.


terça-feira, 22 de abril de 2025

A ausência do eufemismo

Aprendi com a administração W. Bush: a importância de saber manipular a semântica. Se queremos apoio popular para aquilo que fazemos, há que arranjar uma expressão capaz de o angariar, substituindo uma dura e rigorosa por outra mais leve e digerível. Assim, essa administração não autorizou práticas de "tortura" em Abu Ghraib ou Guantánamo, mas sim "técnicas de interrogatório reforçadas". De igual modo, com Trump, acções como a deportação de activistas pró-Palestina ou o corte de fundos para universidades onde estes se manifestaram estão a ser apelidadas de "medidas de combate ao anti-semitismo". São poucos os que gostam de deportações de manifestantes. E também os que apreciam cortes de verbas universitárias. Mas, que mais não seja pelas cicatrizes históricas deixadas no século passado, somos todos (ou quase todos) favoráveis à luta contra o anti-semitismo.

Tudo isto para dizer: soube hoje que foi iniciado, por esta administração, um grupo de trabalho para "erradicar preconceitos anticristãos". Não sei o que o termo oculta, mas suspeito que o saberemos em breve por parangonas articuladas de outras maneiras onde só uma característica será certa: a ausência do eufemismo.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Uma trilogia inesperada que tem chegado às salas de cinema portuguesas nos últimos meses. Os próximos episódios serão: "Já te disse que estou aqui", "Continuo à tua espera aqui" e "És capaz de começar a sair de casa com pelo menos uma hora de antecedência de maneira a não me deixares sozinha aqui".


Enquanto investidor, tenho estado relativamente tranquilo a ver os meus activos no vermelho. Quedas como esta fazem parte das regras do jogo, devendo ser encaradas como época de saldos e não como corrida às vendas pelo preço menos mau possível. E se os mercados recuperaram da Covid ou da crise do subprime, então ainda menos razões há para entrar em pânico agora. Lá diz o Morgan Housel, "Cada queda no passado do mercado parece uma oportunidade; cada queda no futuro parece um risco".

Mas isto... confesso que me trouxe memórias do Cavaco Silva e do seu "os portugueses podem confiar no BES".

domingo, 6 de abril de 2025

Nunca esquecer que, poucos dias antes de assumir o cargo neste mandato, Trump lançou uma criptomoeda que não passou de um esquema para ele e os amigos enriquecerem às custas do dinheiro alheio.

A minha esperança é que a sua política tarifária desastrosa e mal fundamentada – que prenuncia uma recessão económica global – sirva apenas para colocar os mercados a preços de saldo com o mesmo objectivo. Se assim for, bastarão dias ou semanas para tudo ser revertido, as acções retomarem a trajectória optimista e a família Trump engordar os seus bolsos com mais alguns milhões.

E aqui estou eu: a torcer para que a América esteja nas mãos de um presidente corrupto, que se serve do cargo egoisticamente e sem qualquer consideração quanto a eventuais conflitos de interesse. Parece uma possibilidade tão mais reconfortante quando a alternativa é a simples estupidez.