sábado, 4 de fevereiro de 2023

Quando vi o novo "Avatar" em 2D, saí genuinamente entusiasmado, como se tivesse testemunhado uma fusão inovadora e promissora entre uma sala de cinema e uma feira de tecnologia topo de gama. Tendo-o revisto agora em IMAX 3D, a impressão que tenho é a de ter estado a olhar, durante 3 longas horas, para o vídeo do maior plasma de alta definição do "Media Markt". Compreendo, assim, melhor a relutância quase generalizada provocada na crítica nacional, dado que o visionamento de imprensa foi efectuado nessas condições. Tudo aquilo que é forte, orgânico e envolvente numa visualização em 2D surge, paradoxalmente, frouxo, artificial e distractivo com todos os acrescentos folclóricos que, alegadamente, contribuem para uma maior "imersividade" da experiência. 

Senão, vejamos... A luz? Mais embaciada. As cores? Menos vivas. As composições dos planos? Passam a estar esteticamente secundarizadas face àquilo que é suposto "sair" do ecrã. As cenas de acção? Devido aos 48 fps, dão razão àqueles que as comparam à pirotecnia dos jogos de vídeo. E os pequenos movimentos de câmara que pretendem, simplesmente, reenquadrar o plano para acompanhar uma personagem em cenas de diálogo? Tão graciosos, discretos e subtis como uma manada de bisontes-americanos a entrar numa loja de porcelana fina. 

Tudo isto para dizer que, no cinema moderno, talvez não haja ainda utensílios mais "imersivos" do que as tradicionais ferramentas cinematográficas: luz, cores, composição, 24 fotogramas/segundo, e, acima de tudo, o menor número de barreiras para o envolvimento emocional do espectador. A tecnologia deve ser usada ao serviço do cinema, não o contrário. James Cameron devia sabê-lo. Foi ele que fez o "Terminator 2" e o "Titanic".

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