domingo, 12 de janeiro de 2020

O que eu gosto neste livro (e no filme) é o de abordar Hollywood não como uma “máquina de sonhos”, mas sim de decepções, rejeições e decadências. Aspirantes a actrizes tornam-se pegas, figurantes passam os dias à espera de chamadas que não chegam, directores de arte enlouquecem, grandes cenários sofrem derrocadas, tudo cai, enquanto uma multidão de espectadores, que cobiçaram o glamour edénico que viam no grande ecrã e foram para oeste após uma vida parcimoniosa para obtê-lo, ficaram nas mãos apenas com as suas ambições feitas em pequenos cacos. O sonho americano é uma droga que deixa quem nele acredita afogado em modorra. A anarquia é o despertar. “Burn, Hollywood, burn.”

(Tudo isto porque no outro dia disseram-me, “Ah, ó Duarte, já que não gostas do Birdman, diz lá um filme que seja uma melhor crítica a Hollywood do que ele.” Claro que digo, pá. E se não saquei do Wilder ou do Altman foi porque seria demasiado fácil.)
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«O seu enfado torna-se cada vez mais terrível. Compreendem que foram enganados e ardem em ressentimento. Toda a sua vida leram o jornal e foram ao cinema diariamente. Tanto um como o outro os nutriram de linchagens, assassínios, perversões sexuais, explosões, naufrágios, amores ilícitos, incêndios, milagres, revoluções, guerras. Este regime quotidiano fez deles pessoas sofisticadas. O sol é uma anedota. As laranjas não conseguem tilitar-lhes os palatos sofisticados. Já nada consegue ser suficientemente violento para lhes retesar os corpos e os espíritos froixos. Foram logrados e traídos. Viveram escravizados e pouparam para nada.»

«O Dia dos Gafanhotos», Nathanael West. Trad. Maria Teresa Alves
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The Day of the Locust (1975), John Schlesinger



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