quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Uma obra-prima da espirituosidade parlamentar

"A si e ao senhor deputado André Ventura já só vos falta cantar o fado. Embora eu confesse que, por uma questão de fetiche musical, preferia ouvi-los trautear qualquer coisinha dos Gipsy Kings."

"O André Ventura falava em 30 câmaras, teve três. É só tirar um zero. Mas depois multiplicou o zero por três. Multiplicar zero por três deve ser a matemática da Festa de Hambúrgueres."

"Ó senhor deputado, esteja à vontade. Adoro barulhos disruptivos. Também já fui membro de uma claque organizada."

"Há uma coisa que os senhores falam verdade. Foi quando disseram que vieram para pôr o sistema a nu. E por isso elegeram candidatos do Only Fans e que fizeram ensaios em revistas."

"Iam ser os líderes da direita, levaram uma banhada do CDS. Iam acabar com a esquerda, perderam para a CDU. Os senhores são o PCP da direita. Mesmo quando perdem, ganham sempre."

"Isto é a política do pudim molotof: muito volume, pouco conteúdo. Bastou uma colherada e aquilo abateu."

domingo, 12 de outubro de 2025

Enquanto pacientemente aguardo a minha vez de votar, entretenho-me com um jogo: o de adivinhar a preferência partidária de cada um dos 5 membros da mesa de voto com base na respectiva aparência.

Primeiro, à esquerda, sentado, um homem barbudo de lentes graduadas, com uma camisola verde e postura séria. Adivinho que se trata de um professor universitário, provavelmente de uma cadeira de extenso nome e curta utilidade como "Estudos Antropológicos de Comunidades Autóctones no Japão Feudal". Aposto no Livre.

À direita, uma mulher na casa dos 30, rabo-de-cavalo irrepreensível, com casaco e sapatos de padrão leopardo. Possui o olhar assertivo de quem está prestes a entrar confiante numa reunião com a Comissão Executiva para apresentar um "powerpoint" sobre o "market study" da prática do "cross-selling" na concorrência. Claramente, PSD.

Quem me chama é uma senhora de meia-idade com óculos grossos, camisa às bolas e blusa preta. O "Seguinte!" que solta denuncia a sua experiência em apelar à ordem nas turmas mais barulhentas das aulas de Língua Portuguesa da EB23 da zona. PS, sem hesitação.

É das mãos dela que recebo os boletins de voto. Mas não sem antes reparar nos dois restantes membros que vigiam a mesa um pouco de longe: uma jovem com a parte lateral do cabelo rapado, "piercing" no nariz e braços que têm mais tatuagens do que pele (Bloco) e um senhor anafado, na casa dos sessenta, de rosto tão vincado como o pólo de colarinho torto que veste, acarretando a expressão insatisfeita de quem, ao final do dia, irá para o café reclamar que os palmiers recheados de hoje em dia "são só massa folhada e nada de creme, resultado de 50 anos das políticas desastrosas de PS e PSD" (Chega).

Voto, devolvo os papéis e saio a pensar: será que a minha aparência também grita um estereótipo eleitoral? E, sobretudo, será que os elementos da mesa também fazem este jogo, para si, à medida das várias chamadas que vão organizando?

sábado, 11 de outubro de 2025

Diane Keaton (1946 - 2025)

"One talks about a personality that lights up a room, she lit up a boulevard."

"Apropos of Nothing", Woody Allen

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Aqui, em Aveiro, domingo não será só dia de eleições. Será, sobretudo, o desfecho desta contenda política entre dois irmãos, o mais velho (PS) e o mais novo (PSD), netos de um antigo presidente da câmara local cujo legado inspirou as candidaturas de ambos. Se Shakespeare fosse vivo, estaria a escrever mais uma da suas obras-primas partindo desta disputa fraterna pelo poder. O seu nome? "Rei Folar".

https://observador.pt/especiais/indecente-isaltino-de-terceira-o-tempo-dele-ja-foi-o-duelo-dos-manos-rivais-de-aveiro-descambou/?utm_term=Autofeed&utm_medium=Social&utm_source=Facebook&fbclid=IwdGRjcANVnGpleHRuA2FlbQIxMQABHsnQNlCbKbQPlfR_5FDyuWu-jis5np7-yB--o1HkvYnJ4dVseJ2T4MPZn88h_aem_OXlYWd4B5CSIm5TMfpLQUQ#Echobox=1760049001

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Autárquicas '25

A minha vontade de votar num partido reduz a cada nova entrada do respectivo carro com o hino de campanha a tocar estrepitosamente na minha rua.

domingo, 5 de outubro de 2025

O Casanova a dizer as verdades

"Sociólogos com sorrisos terríveis vão ao telejornal dizer-nos que temos de despejar caldo-verde nos sapatos para combater a inflação. Mas é mais uma mentira do Sistema, nunca funciona, estão a rir-se na nossa cara, os preços continuam a subir e os nossos pés agora cheiram a couves e a desespero. É um insulto aos nossos antepassados, homens orgulhosos, habituados a pagar 15 escudos por uma bifana, mas o pão era pão verdadeiro, não esta esponja de supermercado; um pão que cheirava a império e trazia cabelos da Virgem de Fátima. Agora a comida é diferente, tem sal a menos e cores a mais, por causa dos lóbis. As elites pegaram no nosso ouro e entregaram-no aos chineses, em troca de crepes vegetarianos e bilhetes para a Champions. As elites estão a importar esquimós e a dar-lhes subsídios para matarem os golfinhos do Sado. Não vão ver isto nos telejornais, não é conveniente."

https://www.publico.pt/2025/10/05/opiniao/cronica/reconquistar-portugal-2149491

sábado, 4 de outubro de 2025

Se “The Tortured Poets Department” foi um ligeiro deslize na carreira da Taylor Swift, “The Life of a Showgirl”, embora ainda não seja o retorno à grande forma, volta pelo menos a acertar-lhe o rumo. E prova que um disco com o devido trabalho de curadoria, um centro temático bem-definido (a fama, com todas as suas glórias e contendas, vantagens e sacrifícios, holofotes e sombras) e uma duração facilmente digerível (40 minutos), torna a audição bastante mais aprazível do que um álbum duplo mastodôntico e errático que, salvo esporádicas excepções, resulta numa experiência de soporífera repetição.

"Quantidade não é qualidade", já lá diz o adágio. E que bem sabe ouvir o devido pirete musical à cultura de cancelamento.