segunda-feira, 11 de setembro de 2017
Amor à camisola
Em Berlim entrevistei o Álex de la Iglesia a propósito do El Bar, filme que esteve presente nesta edição do MotelX. Quando a passei a limpo, deparei-me com este excerto que tive que "embelezar", mas prefiro deixar aqui a versão suja e honesta (e deontologicamente incorreta) do que se passou:
«Dudu: Na conferência de imprensa disse que as suas influências são Buñuel e Carpenter...
Alex: É apenas um exemplo. O que queria era salientar um contraste. Buñuel é considerado um cineasta importante e sério, enquanto Carpenter é um cineasta que faz filmes de série-B. Esta combinação, entre coisas importantes e coisas estúpidas é o que faz o meu cérebro.
Dudu (excitado, bate com a mão na mesa): Mas o Carpenter não é "estúpido"! Olhe que até a crítica mais intelectual gosta do Carpenter!
Alex (encolhido e a sorrir): Obrigado. Muito obrigado.»
Geralmente sou um gajo educado e neutro nestas situações. Mas raios, também tenho que mostrar amor à camisola.
domingo, 10 de setembro de 2017
segunda-feira, 4 de setembro de 2017
O plano clandestino de «North by Northwest»
«(...) Dag Hammarskjöld proibiu que se fizessem filmes de ficção utilizando o edifício das Nações Unidas, depois de um filme que se intitulava The Glass Wall. Apesar disso, fomos até ao edifício das Nações Unidas e, enquanto os guardas vigiavam o nosso material, filmámos um plano com uma câmara oculta; a entrada de Cary Grant no edifício.»
Hitchcock / Truffaut
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North By Northwest (1959), Alfred Hitchcock |
Preencher o tapete
«François Truffaut (F.T.): (...) justamente atrás de Clift, ao lado da mulher de Otto Keller, doce, formosa e comovida, vê-se uma mulher gorda, bastante repugnante, comendo uma maçã e cujo olhar expressa uma curiosidade maligna.
Alfred Hitchcock (A.H.): Sim, coloquei esta mulher de uma maneira deliberada, especial. Dei-lhe a maçã e disse como comê-la.
F.T.: Bom, isto é algo que ninguém do público nota, porque se vêem fundamentalmente as personagens já conhecidas. Trata-se, portanto, de uma exigência sua, não em relação ao público, mas a si próprio e ao filme.
A.H.: Mas, escute-me, essas coisas têm que ser feitas... Trata-se sempre de preencher o tapete e já dissemos que é preciso ver um filme várias vezes para observar o conjunto dos detalhes. A maior parte das coisas que introduzimos num filme perdem-se realmente, mas, seja como for, trabalham a seu favor quando voltam a ser distribuídos vários anos depois; damos-nos conta de que segue algo sólido e que não passou de moda.»
Hitchcock / Truffaut
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I Confess (Confesso!, 1953), Alfred Hitchcock |
quarta-feira, 30 de agosto de 2017
terça-feira, 15 de agosto de 2017
Split focus diopter
A minha grande descoberta cinematográfica recente não foi um filme nem um realizador. Antes uma lente, o split focus diopter (desconheço o termo português), meio-vidro convexo que se coloca sobre a lente da câmara de filmar, e que permite ter objectos às mais variadas distâncias bem focados. Uma brincadeira com a profundidade de campo, portanto, sendo identificável visualmente através da presença de uma ligeira turvação a meio do enquadramento que, ainda assim, pode ser disfarçada.
Foi usado por, entre outros, Wyler, de Palma e Spielberg, mas tem vindo a cair em desuso por causa do digital. Em baixo alguns planos de filmes que recorreram ao seu uso. Alguns parecem split-screens, mas não são. É apenas fotografia.
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The Untouchables, 1987, Brian de Palma |
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Unforgiven, 1992, Clint Eastwood |
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Casualties of War, 1989, Brian de Palma |
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Jaws, 1975, Steven Spielberg |
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All the President's Men, 1976, Alan J. Pakula |
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The Haunting, 1963, Robert Wise |
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Blow Out, 1981, Brian de Palma |
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The Children's Hour, 1961, William Wyler |
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Split focus diopter |
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