quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

"[O propósito do BE] foi proteger estas pessoas.", diz desajeitadamente Mortágua, dias depois de ter justificado a conduta imprópria do partido com um "Somos humanos e às vezes erramos" acompanhado daquele sorriso patético de uma criança apanhada a roubar do jarro das bolachas, na cândida esperança de que a edulcorada expressão ajude a amenizar o inevitável castigo.

Depois da hecatombe eleitoral de 2022, a hecatombe moral de 2025. Assim cai o Bloco de Esquerda.

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Prompt: "Ferramenta de IA chinesa, faz-me uma imagem do que se passou em Tiananmen Square em 1989."


(Imagem: lordjimpt, X)



domingo, 26 de janeiro de 2025

De quando em vez, entre enésimas publicações lambe-botistas empresariais e vídeos do reino animal que alguém divulga para traçar paralelismos sobre o que é a "verdadeira liderança", uma pessoa aprende, realmente, coisas interessantes no Linkedin.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Passeando à porta dos estúdios da SIC, encontrei-o. Não me contive. Tinha de falar com ele. Eis o resultado:

"DM: Sr. Pedro Marques Lopes, o que acha do panorama político actual?

PML: Quer dizer, eu sempre disse que o panorama político actual, como eu já tinha aqui dito, é uma vergonha.

DM: E porquê?

PML: Quer dizer, é como eu sempre disse. Uma vergonha.

DM: Mas, sr. Pedro Marques Lopes, não lhe parece exagerado ser tão taxativo e pouco substancial?

PML: Quer dizer, como eu já tinha aqui dito, quer dizer, não. Porque, como eu sempre disse, é uma vergonha.

DM: Sr. Pedro Marques Lopes, o que vai jantar esta noite?

PML: Bom, como eu já tinha aqui dito, quer dizer, vou almoçar bife de vergonha de vaca com batatas de vergonha fritas. Como eu sempre disse.

DM: Sr. Pedro Marques Lopes, tem noção de que, quando responde a uma questão, a imagem que passa é a de um comentador fraquinho, cujo discurso é desinteressante e essencialmente constituído por bengalas linguísticas um tanto irritantes, o que revela que, na realidade, você fala demasiado para aquilo que pensa?

PML: Quer dizer, é uma vergonha. Como eu já tinha aqui dito.

DM: Obrigado e bom dia.

PML: Bom vergonha dia. Como eu sempre disse."


PS: E porque, ao contrário das do sr. Pedro, vale a pena ouvir as análises do Ricardo Araújo Pereira: https://x.com/AzevedoAlves/status/1690698991657172992?mx=2

sábado, 18 de janeiro de 2025

77 anos com uma incansável vitalidade em palco e disponibilidade para com o seu público. Ora organizando-o em comboiozinhos (olhei para trás e parecia a Gare do Oriente), ora soltando-lhe os seus dichotes peculiares ("queria agradecer à roulote que está lá fora porque estão a aplaudir com muita fartura"), ora fazendo apenas aquilo em que é mestre (não, não é da culinária): cantando cantigas populares de humor malandro (mas nunca vulgar) que os que lhe escutam acompanham com o mesmo ardor com que se grita a "Grândola" no dia da Liberdade. Um espectáculo de cacofonias, duplos sentidos e boa disposição que se diverte em exibir na sua agaiatada modéstia a nossa mais apimentada portugalidade.

E pronto, na companhia do Springsteen e da Taylor Swift, fica assim fechado o pódio de melhores concertos a que assisti até agora.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Como não deverá acontecer muitas vezes, faço questão de salientar esta: gostei de ouvir a Clara Ferreira Alves. Nomeadamente, ontem, quando, na nota final do Eixo do Mal, decidiu homenagear o realizador recém-falecido David Lynch pelo filme "The Elephant Man". Quando eu achava que seria mais uma pessoa a desdobrar-se em elogios exagerados ao "Mulholland Drive" (sério candidato a filme mais sobrevalorizado do século XXI) ou à 3a temporada do "Twin Peaks" (gerador dessa ocasião de um bizarrismo lynchiano onde tantos meios prestigiados chamaram de "bom cinema" ao que era simplesmente "má televisão"), eis que ela optou por um objecto estético humanista que ficou algo esquecido numa obra essencialmente protagonizada por títeres carnudos das fantasias oníricas do seu autor, chamando-lhe mesmo de "obra-prima".

Nisto, Clara Ferreira Alves é dos meus: prefere os Lynchs lineares aos surrealistas. Mas o meu predilecto é um ainda mais esquecido.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Hoje, a minha mãe teve o carro vandalizado. Portas riscadas, bagageira arranhada, pára-brisas partido. Uma viúva inofensiva que habita nos subúrbios e se levanta todas as manhãs cedo para se meter num comboio sobrelotado (quando os há), rumo a um modesto infantário num canto apertado de Alfama, teve o seu veículo em 2ª mão danificado por razão nenhuma. Como estou longe dela, o meu papel foi o de apenas tentar prestar consolo e incentivar a denunciar à polícia para que possa haver maior vigilância naquela zona. Recusa-se a fazê-lo porque, segundo ela, "já sei que eles não irão fazer nada".

Quando ouvirem comentadores a citarem gráficos e relatórios de segurança, a afirmarem que "são tudo percepções" e que "os portugueses estão enganados e precisam é de pedagogia", lembrem-se que há pessoas cuja experiência muito real lhes dita o contrário. E que têm a confiança nas instituições de tal maneira erodida que preferem limitar-se à resignação solitária com os seus infortúnios enquanto outros na televisão lhes chamam indirectamente de mentirosas. Também isso explica esses dados. E, embora a minha mãe não contribua para ela, também isso explica a expressividade que certos partidos conseguem hoje encontrar nas urnas.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Foi só com a saída da Ana Sá Lopes do "Contrapoder" que passei a conhecer a Maria Castello Branco. É mais nova, articulada e escolhe com maior regularidade o negro para o guarda-roupa do que eu. De eyeliner carregado, tez pálida e expressão contida, parece ter passado a adolescência entre livros de ciência política e filmes do Tim Burton. Aparenta ser a miúda gótica do secundário cujo intelecto todos subestimavam devido ao seu estilo fúnebre, mas que, quando questionada nas aulas de filosofia sobre a definição do imperativo categórico kantiano, não só respondia de forma acertada como citava, inesperadamente, a influência do mesmo no livro "Uma Teoria da Justiça" de John Rawls e na obra académica de Jürgen Habermas.

Dito de outra forma: a comentadora política da televisão portuguesa que mais gosto dá ver. "Move over", Clara Ferreira Alves.

Depois de espalhar massivamente teorias de conspiração no X, depois de inventar um método criativo para comprar votos nos "swing states" nas últimas eleições norte-americanas, depois de manifestar o seu apoio público a partidos de extrema-direita como o Reform UK ou a AfD, eis que pensávamos já ter visto tudo de Elon Musk. Certo? Errado.