quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Hoje, a minha mãe teve o carro vandalizado. Portas riscadas, bagageira arranhada, pára-brisas partido. Uma viúva inofensiva que habita nos subúrbios e se levanta todas as manhãs cedo para se meter num comboio sobrelotado (quando os há), rumo a um modesto infantário num canto apertado de Alfama, teve o seu veículo em 2ª mão danificado por razão nenhuma. Como estou longe dela, o meu papel foi o de apenas tentar prestar consolo e incentivar a denunciar à polícia para que possa haver maior vigilância naquela zona. Recusa-se a fazê-lo porque, segundo ela, "já sei que eles não irão fazer nada".

Quando ouvirem comentadores a citarem gráficos e relatórios de segurança, a afirmarem que "são tudo percepções" e que "os portugueses estão enganados e precisam é de pedagogia", lembrem-se que há pessoas cuja experiência muito real lhes dita o contrário. E que têm a confiança nas instituições de tal maneira erodida que preferem limitar-se à resignação solitária com os seus infortúnios enquanto outros na televisão lhes chamam indirectamente de mentirosas. Também isso explica esses dados. E, embora a minha mãe não contribua para ela, também isso explica a expressividade que certos partidos conseguem hoje encontrar nas urnas.

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