terça-feira, 30 de janeiro de 2024

A Nova Direita quer exigir aos imigrantes que tenham "pleno conhecimento da língua" lusitana para atribuição de nacionalidade portuguesa. Não "suficiente", não "bom", mas "pleno". Quer dizer que, para se ser português, os membros deste partido exigirão aos estrangeiros a leitura obrigatória da gramática do Cunha e Cintra? Irão ordenar a conjugação de verbos como ‘Tergiversar’ em todos os tempos do conjuntivo? Ou requisitarão rigorosas análises sintácticas e morfológicas das mais esdrúxulas e insólitas frases? 

A menos que o plano passe por conceder oportunidades de carreira muito específicas aos imigrantes, o objectivo deveria ser a atribuição de cidadania portuguesa. Não um mestrado em Linguística. E, se é para enveredarmos nisto do "pleno conhecimento da língua", então comecemos a olhar para os "portugueses de gema", explorando as caixas de comentários das redes sociais e removendo a nacionalidade a quem comete as mais gritantes calinadas. Custa tanto chamar a tais indivíduos de "meus concidadãos".

domingo, 28 de janeiro de 2024

Não sei se tenho amigas eleitoras do PCP. Se sim, talvez queiram reconsiderar o sentido de voto. Segundo o programa destas legislativas, o dito partido quer acabar com as idas ao shopping aos domingos e feriados.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Nelma Serpa Pinto, a única razão que me leva a ver a "Júlia"*

*Já falo nela, por aqui, desde 2021 (ano em que, soube pelo programa, começou a apresentar o jornal da meia-noite, que foi onde a vi pela 1ª vez). Na altura, era um pouco mais tímida, o que não lhe afectava em nada o profissionalismo. Mas, vendo os excertos das entrevistas ao Pedro Nuno Santos e ao Ventura que surgiram nas últimas semanas, é impressionante como cresceu. Está mais segura e assertiva. Ganhou garra. Já era a jornalista mais bonita dos noticiários portugueses. Agora, é também uma das melhores.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Gosto de ler programas eleitorais. Para garantir a consciência do meu sentido de voto? Para ficar devidamente informado do manancial de ideais defendido por cada partido? Nada disso. Leio programas eleitorais pela simples diversão que obtenho com a verbalização de algumas medidas. Por exemplo, esta do Volt sobre "Punir discriminação (...) de pessoas em não-monogamias consensuais ou fruto destas". "Discriminação"? Mas o que é isto? Existem indivíduos em relacionamentos abertos que são vilipendiados na rua, sendo alvo de agressivos achincalhes como "Ó não-monogâmico, vai para a tua terra de poligamias!"? E os seus filhos? Terão de lidar com bullying na escola através de vitupérios como "Filho da poliandria!"? Há entrevistas de emprego onde se pergunta, "E o senhor, é casado? E qual a regularidade com que participa, acompanhado de sua esposa, em bacanais aos sábados à noite?", correndo-se o risco de exclusão do processo? E quando foi a última vez que ocorreu uma manifestação com cartazes empunhando a frase "NON-MONOGAMIC LIVES MATTER!"? Finalmente, que ideias têm eles para aquelas "campanhas de sensibilização" referidas? Se estamos a falar de segmentos televisivos com várias pessoas em momentos de recreio que envolvem uma cama, eu tenho algumas desde a adolescência. Estou disponível para cedê-las. E até para participar nas rodagens dos ditos em regime "pro bono".

sábado, 20 de janeiro de 2024

Renata Cambra, porta-voz do MAS, define as políticas do PS como "neoliberais". E isto 1 mês depois de Luís Montenegro apelidar a visão política de Pedro Nuno Santos de "comunista". Eis que o mesmo partido é simultaneamente acusado de ser pró e anticapitalista, adulador e combatente do mercado, praticante de uma intervenção estatal mínima e máxima, totalmente a favor e contra toda a noção de propriedade privada. É este o estado da política portuguesa: espaço onde as palavras são autónomas do rigor histórico e lexical, abnegando-se do seu real significado pela capacidade de surgirem como termos pomposos para acirrar as turbas indoutas contra os adversários partidários. Também assim se faz demagogia. Também assim se alimenta a polarização do debate público. Também assim se contribui para a iliteracia política nacional.

domingo, 14 de janeiro de 2024

The National a passar no Lidl da Penha de França. Início de progresso na música ambiente das cadeias de retalho? Ou a confirmação final do declínio artístico de uma banda?

sábado, 13 de janeiro de 2024

Era o Ted Sorensen, conselheiro e "speechwriter" do Kennedy, que dizia que, mais do que as palavras, eram as ideias, os princípios e os valores que davam a grandiosidade a um discurso. E o recente discurso de Chris Christie, o candidato republicano mais vocal na oposição a Donald Trump nas primárias do seu partido, a anunciar a sua desafortunada desistência da corrida presidencial, parece seguir esse conselho à letra, tal é a substância premente que acarreta: a importância da defesa da democracia, a verdade e a coragem como armas de combate contra o medo e o ódio, a urgência no impedimento da vitória dos populistas autocentrados de tendências despóticas, e o enaltecimento da diferença - tão comummente manipulada para fins divisórios - como um alicerce a partir do qual se constrói uma grande nação. Não sei se é o seu Gettysburg Address, o seu "I have a dream", o seu "Ask not what your country can do for you", ou o seu "The only thing we have to fear is fear itself". Mas sei que é um belíssimo discurso a precisar de ser ouvido. E não só pelo eleitorado americano.

«I would rather lose by telling the truth than lie in order to win, and I feel no differently today, because this is a fight for the soul of our party and the soul of our country. (...) I want you to imagine for a second that Jefferson and Hamilton and Adams and Washington and Franklin were sitting here tonight. Do you think they could imagine that the country they risked their lives to create would actualy have a conversation about whether a convicted criminal should be president of the United States? I can't tell you how many people in New Hampshire have asked me, "Why there isn't a law against that?". The answer is because nobody ever thought that someone would have the audacity to run for president as a criminal. And they never thought that any American electorate would actually support it. (...) I remember what Benjamin Franklin said - I'm sure many of you do to - when he was walking down the street in Philadelphia after the constitutional convention, and a woman approached him and said, "Mister Franklin, what kind of government did you give us?". And he said to the woman, "A republic, if you can keep it." Benjamin Franklin’s words were never more relevant in America than they are right now.»

sábado, 6 de janeiro de 2024

Consigo compreender o fascínio pelo Ryan Gosling: a sua masculinidade "cool" torna-o fácil de imaginar numa oficina, usando uma t-shirt manchada de óleo com os abdominais ginásticos bem salientados. 

Consigo compreender o fascínio pelo Ryan Reynolds: o seu sentido de humor carismático torna-o fácil de imaginar num sofisticado bar com espectáculos de comédia "stand-up", piscando sedutoramente o olho aos membros femininos da audiência enquanto as gargalhadas e os aplausos recebem as suas piadas certeiras. 

Consigo até compreender o fascínio pelo Benedict Cumberbatch: o seu sotaque elegante torna-o fácil de imaginar numa instituição académica de prestígio, uma espécie de professor charmoso que faria as alunas escreverem nas pálpebras as palavras "Love you" como vimos no primeiro "Indiana Jones". 

Mas não consigo compreender - não consigo mesmo - o fascínio feminilmente consensual, universal e transgeracional, de jovens adolescentes a mulheres maduras, pelo Timothée Chalamet. É que só o imagino sentado num refeitório estudantil, de uniforme colegial aperaltado, enquanto merenda um pacote de Oreos acompanhado de um copo de leite bem morninho.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Há que tirar o chapéu à máquina de "spin" do PS. Eis que um ex-ministro, anteriormente definido como impulsivo e imaturo, passa agora a ser visto como diligente e proactivo pelas mesmas razões. A narrativa é eficiente: "O Pedro Nuno Santos precipitou-se quando anunciou a construção de um aeroporto sem consultar ninguém? Sim, mas porque é um 'fazedor' e não se respalda na inércia que tanto atormenta este país." E começa-se a pensar como é que estes talentosos "spin doctors" teriam lidado com alguns dos maiores escândalos da política internacional. Dois exemplos:

1) "O Nixon colocou escutas ilegais para espiar os seus adversários políticos? Sim, mas porque quis garantir que, na eventualidade de ficarem indispostos, estaria alguém a ouvi-los para rapidamente fazer chegar o devido auxílio."; 

2) "O Bill Clinton recebeu felação de uma estagiária na Sala Oval? Sim, mas porque se preocupa em estar próximo das gerações mais novas e quis mostrar o quanto lhe tocam no íntimo do seu ser."