sexta-feira, 16 de agosto de 2024

De quando em vez, em nome do bem-estar doméstico, um tipo tem de se sujeitar a estes exercícios cinematograficamente sofríveis. Mas quão tortuoso este em específico pode ser: melodrama de pacotilha, personagens estereotipadas em catadupa, versão um tanto aligeirada (apetece dizer "telenovelada") de relacionamentos abusivos, a ingénua crença de que todos os actos bons e significativos que um homem faça são por causa de uma mulher, e, claro, diálogos que mais parecem escritos por uma rapariga do 7º ano cuja principal referência literária é uma antologia encadernada de guiões dos "Morangos com Açúcar". Em suma, um "filme de gaja". Com todo e qualquer sentido pejorativo.

E dou por mim a pensar: "Mas porquê? Qual é o motivo que leva um cineasta a pegar num argumento tão frouxo e a pôr em risco a integridade da sua reputação para filmar isto?" Depois, dizem-me: "Olha que o realizador é o actor que interpreta a personagem que anda aos beijos com a Blake Lively." E aí, ó meus amigos, quão compreensivo fico.

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Para mim, é simples. Se um produto de investimento não pode ser explicado numa frase entendível para a generalidade das pessoas, então muito provavelmente trata-se de um esquema (Ponzi, pirâmide, o que for) à espera de desabar.

"O que é uma acção?" É parte de uma empresa.
"O que é uma obrigação?" É um empréstimo concedido a uma empresa.
"O que é um ETF?" É um "cesto" de acções e obrigações.
"O que é um PPR?" É um "cesto" de ETFs.
"O que é um certificado de aforro?" É um empréstimo concedido ao Estado português.

Mas perguntem a alguém que investe em criptomoedas se sabe do que se trata. Das duas uma: ou não consegue explicar, embora saiba que faz dinheiro (como os esquemas costumam fazer, pelo menos enquanto duram); ou então inicia uma conversa alongada (menos entendida do que decorada) usando termos inovadores e tecnologicamente sofisticados como "blockchain", os quais pretendem dar a sensação de total monitorização e segurança.

Obrigado, mas não. Quando há uma mexerufada de palavras complexas a apelar ao investimento, e quem a elas adere demonstra mais ganância do que conhecimento, então sei que o que está em causa não é a inovação, mas sim a opacidade. Já aconteceu no passado. Chamou-se "subprime".

https://www.jornaldenegocios.pt/mercados/criptoativos/detalhe/criptomoedas-burla-em-piramide-da-omegapro-lesou-156-portugueses

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Fui com C. à CGD para ela poder tirar os recursos financeiros de um produto que tinha subscrito para outra opção mais favorável. O comercial que nos atendeu disse-nos sarcasticamente sobre o produto que C. ia deixar de subscrever, "Com estas taxas (3,4% brutos, temporários por causa do aumento da Euribor no último ano e meio), têm de me dizer que produto é esse para eu colocar lá o meu dinheiro todo" e "Vocês é que sabem". Aceitei a provocação e falei-lhe na Trade Republic, uma corretora alemã que dá 3,75% no dinheiro à ordem, com efeito de juros compostos a cada mês. Abri-lhe a minha aplicação da TR para lhe explicar o processo da atribuição e recálculo de juros. O comercial olhou para nós e, já sem qualquer sarcasmo, respondeu frases aprovadoras como, "Não sabia", "Vou ter de explorar isso", "Isso é muito fixe, aproveitem" e "Com essa é que me apanharam".

Querem saber o quão grave é o problema da iliteracia financeira em Portugal? Nem os trabalhadores de bancos sabem que há corretoras internacionais que dão mais pelo dinheiro não investido do que os nossos bancos nacionais pelo dinheiro investido. Razão pela qual continuamos tão mal servidos em termos de produtos poupança.

domingo, 4 de agosto de 2024

Durante a 1ª metade, o entusiasmo é total, criando enormíssimas expectativas sobre o objecto de que estamos diante: um filme de série B (daqueles que Carpenter ou de Palma chamariam um figo) concentracionário e estiloso, decorrido quase totalmente num único espaço (e logo numa arena de concertos, local tão cinematograficamente sedutor e pouco explorado) e em tempo real, explorando vulnerabilidades de segurança na eventualidade de uma manobra táctica para encurralar um astuto criminoso. O suspense proveniente da sensação de cerco que a cada minuto se aperta, assim como a simpatia espoletada pela figura do assassino na procura de possíveis escapatórias, são de uma eficácia hitchcockiana que coloca (temporariamente) "Trap" ao nível dos melhores de Shyamalan. Mas depois, muda-se o espaço, muda-se o ponto de vista, muda-se até o protagonista, para dar lugar a uma segunda metade de soluções narrativas pouco convincentes ou já muito conhecidas filmadas sem particular fulgor na pacatez familiar do espaço doméstico suburbano. O argumento sempre foi o ponto fraco de Shyamalan, mas não se esperava um erro de principiante como este: dar a melhor parte no início. Um filme que tem tanto de fascinante como de frustrante.