quinta-feira, 30 de outubro de 2025

"Protuberâncias soberbas, doces convexidades"

No último "Assim vamos ter de falar de outra maneira", é abordada uma questão querida a muitos rapazes de qualquer geração: "Quando viste o primeiro par de seios na tua vida?" Os intervenientes apontam filmes e séries visualizados na adolescência. No meu caso? Comparado com eles, fui mais precoce, tendo tido uma infância nesse aspecto felizarda graças a outro tipo de entretenimento também popular numa era pré-internet: genéricos de telenovelas da TVI.  

Duvidam? Então, abram uma janela no youtube, façam uma maratona deles e deixem-se surpreender com a quantidade de seios que por lá pululam:

  • "Jardins proibidos"? Seios sob vales florescentes. 
  • "Baía das Mulheres"? Seios flutuando no interior de bolhas aquáticas.
  • "Anjo Selvagem"? Seios revelados ao ritmo de queda de um lençol azul.
  • "Olhos de água"? Seios numa criatura surrealista meio-árvore, meio-mulher.
  • "Queridas feras"? Seios num corpo despido dançando em cenário pouco iluminado. 

Até ao "Tu e Eu", duas coisas estavam praticamente asseguradas nos genéricos das telenovelas do canal 4: estética kitsch e maminhas ao léu. Andavam alguns da minha geração esperando pacientemente que os pais saíssem de casa para usurpar a cassete do "Titanic" e fazer "fast-forward" para uma certa cena, quando, afinal, bastava apenas ser bom filho e fazer companhia à mãe todas as noites durante um breve minuto. Um minuto que, recorde-se, passava em horário nobre e sem bolinha. O que safou a estação de Queluz de Baixo foi não haver redes sociais na altura.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

O Ruy Belo é que a sabia toda

Enviaram-nos o email a informar de que tínhamos ficado com a casa na quarta-feira. Já sabíamos que éramos os finalistas juntamente com um casal que iria recorrer ao crédito de habitação jovem. No entanto, o facto de não termos acesso ao referido crédito e, portanto, de apresentarmos capitais próprios para a entrada, decidiu a nossa prioridade. Ficámos simultaneamente felizes e apreensivos. Por um lado, num mercado hipervalorizado onde o preço chega aos 3500€/m2 na zona, algo a pouco menos de 2000 parecia um verdadeiro achado. Mas, por outro, a confiança em prosseguirmos ainda não era completa. 

Respondemos a pedir uma segunda visita com os pais de C. para ouvirmos a voz da experiência. Falámos com eles, em privado, no final para lhes pedir a opinião. Se achavam que seria algo acertado nesta fase. Se achavam que seria uma boa compra. Se achavam que estávamos a tomar a decisão certa. Mostrámos fotos à minha mãe e colocámos as mesmas questões. Todos diziam-nos o mesmo: "Sim, sim! Está aqui um bom trabalho. A casa é bonita e espaçosa. Mais vale aproveitarem e, se mais tarde se arrependerem, podem sempre vendê-la." Ainda assim, estávamos inseguros. Os degraus das escadas pareciam-nos pequenos. A localização podia ser melhor. E aquela mancha de humidade no tecto à porta de casa não seria sinal de uma infiltração que nos havia escapado?

Foi então que nos apercebemos. Estávamos à procura de pretextos para não ficarmos com ela, possuindo a ténue esperança de que alguém nos providenciasse essa validação externa. Não é bom sinal quando uma compra desta envergadura é feita com base no medo e não na certeza. Respondemos ao agente da imobiliária a agradecer-lhe o tempo e a simpatia, mas que, após considerável reflexão, íamos deixá-la passar. Ele foi compreensivo. Espero que os miúdos do crédito habitação jovem sorriam quando souberem da nossa desistência. 

Mesmo que o mercado providencie oportunidades apetecíveis, e mesmo que uma pessoa tenha recursos para as agarrar, há um factor difícil de mitigar num casal de classe média à procura da primeira casa: o peso da responsabilidade que advém com um compromisso a longo prazo como é o de contrair um empréstimo para ela. Continuaremos à procura dentro de uns meses, enquanto, por fim, compreendo a sabedoria que reside no único verso do Ruy Belo que trago decorado há anos: "E uma casa é a coisa mais séria da vida."

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Um homem a cantar (para) os seus fantasmas.

Tudo no sítio certo.

Muito mais, até.

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Revisão da matéria dada (II)

"My father's house shines hard and bright
It stands like a beacon, calling me in the night
Calling and calling, so cold and alone
Shining 'cross this dark highway, where our sins lie unatoned"

Revisão da matéria dada (I)

"He’s writing about the middle of the night, and he’s singing about it in the middle of the night. All by himself. He’s not evaluating his performances, he’s just blowing it out. That’s 'Nebraska'."

"The thing about Springsteen for me, though, is that he’s really good at everything musical he does: great writer, great singer, and great performer. Arguably, he’s one of the greatest performers of the rock era. Being successful at that, going from clubs to arenas to stadiums, the music gets bigger. The music gets more bombastic. It has to, really. But because of this, I think you can lose sight of Springsteen. Seeing him in a big, over-the-top place, an arena or stadium, doing these big performances, his virtues can be missed. You can lose sight of him as the great songwriter he is. So in that way, 'Nebraska' stands as his best record."

"In order to write about other people’s isolation, Springsteen had gone all the way into his own. And then, having created the document of his isolation in the form of an album called 'Nebraska', for the first time he was cut off from the audience that had always been there to provide the energy and life he fed on. The critic and writer Robert Palmer remarked of 'Nebraska', 'It’s been a long time since a mainstream rock star made an album that asks such tough questions and refuses to settle for easy answers—let alone an album suggesting that perhaps there are no answers.'"

domingo, 19 de outubro de 2025

Percebo pouco de futebol e nada de gestão de clubes. Mas confesso que acho um pouco estranho que um pack duplo, com 2 bilhetes para um jogo do Benfica, (99,9€) seja mais caro do que a soma de dois packs simples com 1 bilhete cada (49,9€ × 2 = 99,8€). Mistério matemático? Ou um exemplo paradigmático do que é o mandato do Rui Costa?

Barbara Palvin no Victoria’s Secret Fashion Show 2025

O único debate acalorado, mais emotivo do que racional, quando não mesmo extremado, sobre indumentária feminina que me apetece participar nos próximos tempos é: "Quem nomeamos como a arcanjo das Angels no desfile da última 4ª feira?" Aconselho a mais pessoas o mesmo. Incluindo no actual parlamento.


sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Diz muito sobre o estado do nosso sistema de ensino quando, nas visitas para compra de casa, pergunto ao agente imobiliário que me acompanha qual era a sua profissão anterior e obtenho como resposta, mais vezes do que esperaria, "Eu era professor".

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Uma obra-prima da espirituosidade parlamentar

"A si e ao senhor deputado André Ventura já só vos falta cantar o fado. Embora eu confesse que, por uma questão de fetiche musical, preferia ouvi-los trautear qualquer coisinha dos Gipsy Kings."

"O André Ventura falava em 30 câmaras, teve três. É só tirar um zero. Mas depois multiplicou o zero por três. Multiplicar zero por três deve ser a matemática da Festa de Hambúrgueres."

"Ó senhor deputado, esteja à vontade. Adoro barulhos disruptivos. Também já fui membro de uma claque organizada."

"Há uma coisa que os senhores falam verdade. Foi quando disseram que vieram para pôr o sistema a nu. E por isso elegeram candidatos do Only Fans e que fizeram ensaios em revistas."

"Iam ser os líderes da direita, levaram uma banhada do CDS. Iam acabar com a esquerda, perderam para a CDU. Os senhores são o PCP da direita. Mesmo quando perdem, ganham sempre."

"Isto é a política do pudim molotof: muito volume, pouco conteúdo. Bastou uma colherada e aquilo abateu."

domingo, 12 de outubro de 2025

Enquanto pacientemente aguardo a minha vez de votar, entretenho-me com um jogo: o de adivinhar a preferência partidária de cada um dos 5 membros da mesa de voto com base na respectiva aparência.

Primeiro, à esquerda, sentado, um homem barbudo de lentes graduadas, com uma camisola verde e postura séria. Adivinho que se trata de um professor universitário, provavelmente de uma cadeira de extenso nome e curta utilidade como "Estudos Antropológicos de Comunidades Autóctones no Japão Feudal". Aposto no Livre.

À direita, uma mulher na casa dos 30, rabo-de-cavalo irrepreensível, com casaco e sapatos de padrão leopardo. Possui o olhar assertivo de quem está prestes a entrar confiante numa reunião com a Comissão Executiva para apresentar um "powerpoint" sobre o "market study" da prática do "cross-selling" na concorrência. Claramente, PSD.

Quem me chama é uma senhora de meia-idade com óculos grossos, camisa às bolas e blusa preta. O "Seguinte!" que solta denuncia a sua experiência em apelar à ordem nas turmas mais barulhentas das aulas de Língua Portuguesa da EB23 da zona. PS, sem hesitação.

É das mãos dela que recebo os boletins de voto. Mas não sem antes reparar nos dois restantes membros que vigiam a mesa um pouco de longe: uma jovem com a parte lateral do cabelo rapado, "piercing" no nariz e braços que têm mais tatuagens do que pele (Bloco) e um senhor anafado, na casa dos sessenta, de rosto tão vincado como o pólo de colarinho torto que veste, acarretando a expressão insatisfeita de quem, ao final do dia, irá para o café reclamar que os palmiers recheados de hoje em dia "são só massa folhada e nada de creme, resultado de 50 anos das políticas desastrosas de PS e PSD" (Chega).

Voto, devolvo os papéis e saio a pensar: será que a minha aparência também grita um estereótipo eleitoral? E, sobretudo, será que os elementos da mesa também fazem este jogo, para si, à medida das várias chamadas que vão organizando?

sábado, 11 de outubro de 2025

Diane Keaton (1946 - 2025)

"One talks about a personality that lights up a room, she lit up a boulevard."

"Apropos of Nothing", Woody Allen

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Aqui, em Aveiro, domingo não será só dia de eleições. Será, sobretudo, o desfecho desta contenda política entre dois irmãos, o mais velho (PS) e o mais novo (PSD), netos de um antigo presidente da câmara local cujo legado inspirou as candidaturas de ambos. Se Shakespeare fosse vivo, estaria a escrever mais uma da suas obras-primas partindo desta disputa fraterna pelo poder. O seu nome? "Rei Folar".

https://observador.pt/especiais/indecente-isaltino-de-terceira-o-tempo-dele-ja-foi-o-duelo-dos-manos-rivais-de-aveiro-descambou/?utm_term=Autofeed&utm_medium=Social&utm_source=Facebook&fbclid=IwdGRjcANVnGpleHRuA2FlbQIxMQABHsnQNlCbKbQPlfR_5FDyuWu-jis5np7-yB--o1HkvYnJ4dVseJ2T4MPZn88h_aem_OXlYWd4B5CSIm5TMfpLQUQ#Echobox=1760049001

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Autárquicas '25

A minha vontade de votar num partido reduz a cada nova entrada do respectivo carro com o hino de campanha a tocar estrepitosamente na minha rua.

domingo, 5 de outubro de 2025

O Casanova a dizer as verdades

"Sociólogos com sorrisos terríveis vão ao telejornal dizer-nos que temos de despejar caldo-verde nos sapatos para combater a inflação. Mas é mais uma mentira do Sistema, nunca funciona, estão a rir-se na nossa cara, os preços continuam a subir e os nossos pés agora cheiram a couves e a desespero. É um insulto aos nossos antepassados, homens orgulhosos, habituados a pagar 15 escudos por uma bifana, mas o pão era pão verdadeiro, não esta esponja de supermercado; um pão que cheirava a império e trazia cabelos da Virgem de Fátima. Agora a comida é diferente, tem sal a menos e cores a mais, por causa dos lóbis. As elites pegaram no nosso ouro e entregaram-no aos chineses, em troca de crepes vegetarianos e bilhetes para a Champions. As elites estão a importar esquimós e a dar-lhes subsídios para matarem os golfinhos do Sado. Não vão ver isto nos telejornais, não é conveniente."

https://www.publico.pt/2025/10/05/opiniao/cronica/reconquistar-portugal-2149491

sábado, 4 de outubro de 2025

Se “The Tortured Poets Department” foi um ligeiro deslize na carreira da Taylor Swift, “The Life of a Showgirl”, embora ainda não seja o retorno à grande forma, volta pelo menos a acertar-lhe o rumo. E prova que um disco com o devido trabalho de curadoria, um centro temático bem-definido (a fama, com todas as suas glórias e contendas, vantagens e sacrifícios, holofotes e sombras) e uma duração facilmente digerível (40 minutos), torna a audição bastante mais aprazível do que um álbum duplo mastodôntico e errático que, salvo esporádicas excepções, resulta numa experiência de soporífera repetição.

"Quantidade não é qualidade", já lá diz o adágio. E que bem sabe ouvir o devido pirete musical à cultura de cancelamento.