Enviaram-nos o email a informar de que tínhamos ficado com a casa na quarta-feira. Já sabíamos que éramos os finalistas juntamente com um casal que iria recorrer ao crédito de habitação jovem. No entanto, o facto de não termos acesso ao referido crédito e, portanto, de apresentarmos capitais próprios para a entrada, decidiu a nossa prioridade. Ficámos simultaneamente felizes e apreensivos. Por um lado, num mercado hipervalorizado onde o preço chega aos 3500€/m2 na zona, algo a pouco menos de 2000 parecia um verdadeiro achado. Mas, por outro, a confiança em prosseguirmos ainda não era completa.
Respondemos a pedir uma segunda visita com os pais de C. para ouvirmos a voz da experiência. Falámos com eles, em privado, no final para lhes pedir a opinião. Se achavam que seria algo acertado nesta fase. Se achavam que seria uma boa compra. Se achavam que estávamos a tomar a decisão certa. Mostrámos fotos à minha mãe e colocámos as mesmas questões. Todos diziam-nos o mesmo: "Sim, sim! Está aqui um bom trabalho. A casa é bonita e espaçosa. Mais vale aproveitarem e, se mais tarde se arrependerem, podem sempre vendê-la." Ainda assim, estávamos inseguros. Os degraus das escadas pareciam-nos pequenos. A localização podia ser melhor. E aquela mancha de humidade no tecto à porta de casa não seria sinal de uma infiltração que nos havia escapado?
Foi então que nos apercebemos. Estávamos à procura de pretextos para não ficarmos com ela, possuindo a ténue esperança de que alguém nos providenciasse essa validação externa. Não é bom sinal quando uma compra desta envergadura é feita com base no medo e não na certeza. Respondemos ao agente da imobiliária a agradecer-lhe o tempo e a simpatia, mas que, após considerável reflexão, íamos deixá-la passar. Ele foi compreensivo. Espero que os miúdos do crédito habitação jovem sorriam quando souberem da nossa desistência.
Mesmo que o mercado providencie oportunidades apetecíveis, e mesmo que uma pessoa tenha recursos para as agarrar, há um factor difícil de mitigar num casal de classe média à procura da primeira casa: o peso da responsabilidade que advém com um compromisso a longo prazo como é o de contrair um empréstimo para ela. Continuaremos à procura dentro de uns meses, enquanto, por fim, compreendo a sabedoria que reside no único verso do Ruy Belo que trago decorado há anos: "E uma casa é a coisa mais séria da vida."
 
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