domingo, 12 de outubro de 2025

Enquanto pacientemente aguardo a minha vez de votar, entretenho-me com um jogo: o de adivinhar a preferência partidária de cada um dos 5 membros da mesa de voto com base na respectiva aparência.

Primeiro, à esquerda, sentado, um homem barbudo de lentes graduadas, com uma camisola verde e postura séria. Adivinho que se trata de um professor universitário, provavelmente de uma cadeira de extenso nome e curta utilidade como "Estudos Antropológicos de Comunidades Autóctones no Japão Feudal". Aposto no Livre.

À direita, uma mulher na casa dos 30, rabo-de-cavalo irrepreensível, com casaco e sapatos de padrão leopardo. Possui o olhar assertivo de quem está prestes a entrar confiante numa reunião com a Comissão Executiva para apresentar um "powerpoint" sobre o "market study" da prática do "cross-selling" na concorrência. Claramente, PSD.

Quem me chama é uma senhora de meia-idade com óculos grossos, camisa às bolas e blusa preta. O "Seguinte!" que solta denuncia a sua experiência em apelar à ordem nas turmas mais barulhentas das aulas de Língua Portuguesa da EB23 da zona. PS, sem hesitação.

É das mãos dela que recebo os boletins de voto. Mas não sem antes reparar nos dois restantes membros que vigiam a mesa um pouco de longe: uma jovem com a parte lateral do cabelo rapado, "piercing" no nariz e braços que têm mais tatuagens do que pele (Bloco) e um senhor anafado, na casa dos sessenta, de rosto tão vincado como o pólo de colarinho torto que veste, acarretando a expressão insatisfeita de quem, ao final do dia, irá para o café reclamar que os palmiers recheados de hoje em dia "são só massa folhada e nada de creme, resultado de 50 anos das políticas desastrosas de PS e PSD" (Chega).

Voto, devolvo os papéis e saio a pensar: será que a minha aparência também grita um estereótipo eleitoral? E, sobretudo, será que os elementos da mesa também fazem este jogo, para si, à medida das várias chamadas que vão organizando?

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