


Vejo a reportagem do Now de ontem sobre as condições dos prédios lisboetas para onde vão morar os imigrantes indostânicos que aguardam os atestados de residência. 2 ou 3 beliches a caberem à tangente num quarto pequeno, sótãos de tecto baixo com 4 ou 5 colchões ao lado uns dos outros, meia dúzia de bilhas de gás fechadas numa cozinha sem janela aberta, paredes de tinta lascada, banheiras imundas, fios eléctricos expostos, a humidade, a sujidade, a parca salubridade de divisões onde nem dadas aceitarÃamos estar mas que ali são cobradas por 900€ o mês.
Depois, vejo o debate que se lhe segue, onde perguntam ao presidente da junta de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, como é possÃvel ele deixar aquilo acontecer. Algumas das respostas: "Não é da minha competência"; "Não fiz nem tenho de fazer esse trabalho"; "O que é que eu tenho a ver com isso?"; "Quem permite isto é o paÃs"; "Há portugueses que também vivem mal porque foram expulsos pelo alojamento local ou pela lei Cristas"; "Eu tenho é a ver com o buraco no passeio e o lixo na rua."
E, de súbito, diante de tamanha altivez e alijar de responsabilidades, as imagens daquelas casas não me parecem ser tão repugnantes.
Muitos malformados, uns quantos difamadores, um par de caloteiros, um agressor doméstico, um ladrão, um bêbado, um pedófilo e, a partir de hoje, um alegado violador.
Estão a ver, João Miguel Tavares, João Marques de Almeida e outros membros do comentariado nacional que afirmavam que linhas vermelhas e cercas sanitárias sobre o Chega eram erradas e que vender a alma polÃtica aos Mefistófeles das assembleias era uma inevitabilidade com que terÃamos de aprender a saber lidar? Como querer que o pior de Portugal esteja presente nos mais altos cargos de poder? Como querer ter confiança em executivos coligados com companhias tão pouco recomendáveis, onde os "casos e casinhos" passariam a ser casos e casões? Como querer, enfim, que fique numa bancada de governo aqueles com quem nem nos sentimos à vontade de sentar ao lado num banco de autocarro?
Eu ainda me lembro de quando fazÃamos parte do lamentável acrónimo PIGS e um presidente do Eurogrupo nos acusava de gastarmos tudo em (e cito) "copos e mulheres". De porcos, bêbados e mulherengos passámos para "motores da economia da zona euro". A fábula do patinho feio que se transforma em cisne gracioso aplicada à economia europeia. Pelo menos, neste momento.
Vou criar um álbum chamado "Expressões de Sérgio Sousa Pinto a ouvir Maria Castello Branco no 'Contrapoder'". São as mesmas que faço quando leio as crónicas da LuÃsa Semedo no Público. Ou os tweets da Carmo Afonso. E vocês, amiguinhos? Quem é o comentador / analista / tudólogo que vos modifica desta forma o semblante?
Não vejo tv generalista. Ou antes, vejo muito poucas vezes. Vá lá, em bom rigor, só há 3 coisas que me levam a sintonizar nela:
1. O Ricardo Araújo Pereira;
2. Entrevistas a grandes personalidades da polÃtica nacional;
3. As rarÃssimas aparições, em programas da tarde, da Nelma Serpa Pinto.
(Aos interessados, a resposta à tradicional questão, "O que dizem os teus olhos?", foi: "É importante olhar sempre bem à volta antes de seguir em frente.")