domingo, 7 de abril de 2024

Gostava de ter gostado do "All of Us Strangers". A culpa não é do filme, mas sim minha e da memória de outro do ano passado que se recusa em esvanecer: "Aftersun". As tangentes entre um e outro são, no mínimo, tentadoras de delinear, não apenas na presença compartilhada de Paul Mescal, mas também na de uma atmosfera de remorso e saudade que, gradualmente, vimos a compreender como componente formal de um violento luto não superado, o qual condena os seus protagonistas a perambular sorumbaticamente num limbo existencial entre passado e presente. São ambos, em suma, filmes de fantasmas. Mas onde "Aftersun" era-o subtil, "Strangers" é-o explícito; onde "Aftersun" aventurava-se no laconismo das ferramentas cinematográficas, "Strangers" estira-se na verbosidade do argumento; onde "Aftersun" confiava na interpretação do espectador, "Strangers" receia a incompreensão do mínimo elemento; onde "Aftersun" continuamente navegava no rio da experimentação, "Strangers" raramente não se afunda no lodaçal do cliché.

E, apesar de parecer para lá caminhar, apesar de lá estar tão perto, em nenhum dos 106 minutos de "Strangers" há a explosão emocional que estes 3 de "Aftersun" contêm.

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