sábado, 11 de novembro de 2023

É difícil imaginar o que seriam os filmes de alguns cineastas sem os seus directores de fotografia (DPs). Que seria do "Citizen Kane" de Orson Welles sem as grandes angulares de Gregg Toland? Que seriam dos "noirs" de Anthony Mann sem as sombras de John Alton? Que seriam dos dramas políticos, épicos e eróticos de Bertolucci sem a luz quente de Vittorio Storaro? Há casos em que a colaboração entre um realizador e um DP transcende o de simples contributo para se transformar numa autêntica co-autoria de uma obra estética (e, por isso, Orson Welles fez questão do nome de Tolland aparecer no mesmo cartão dos créditos de "Citizen Kane" onde constava o seu). 

O trio "American Gigolo - Cat People - Mishima" é, talvez, o apogeu do estilo visual de Paul Schrader, onde as cores, luzes e composições servem de vigoroso alicerce para um formalismo arrojado que varia entre o estiloso, o pictórico, o expressionista e o onírico. Muito disso deve-se a John Bailey, DP ontem falecido e recordado, nos jornais, por "filmes de prestígio" (subentenda-se, filmes artisticamente convencionais nomeados aos óscares) que pouco fizeram uso dos seus talentos para trabalhar o impacto imagético de um plano como Schrader fez. Posteriormente, voltaram a reunir-se em 2 filmes esquecíveis onde esse desejo do delírio cromático e composicional já se encontrava ausente.  Mas, com esse trio, fica uma colaboração que, pelo menos para mim, não está muito distante de outras idênticas que ocupam o Olimpo da História do Cinema.




Sem comentários:

Enviar um comentário