Maravilhoso aquele momento de "O Sol do Futuro" onde um travelling de grande profundidade de campo acompanha a personagem de Nanni Moretti, ocupando ele o primeiro plano e, em último e ligeiro desfoque, a filmagem de uma execução por um plano genérico num plateau genérico para um filme genérico. Ao longe, ouve-se o tiro de pólvora seca, vê-se o sangue falso a saltar, e Moretti, bem nítido para o espectador, lá caminha, abstraído nas suas reflexões artísticas e filosóficas, resignado com a sua impotência diante aquilo que hoje se espera da arte que tanto idolatra, sem olhar para trás nem dar indícios do mínimo interesse quanto ao banal cenário de violência simulada entusiasticamente aplaudido pela equipa de rodagem. Para longe da vulgarização cinematográfica e da mediocrização estética marchar, marchar. Se não é o grande momento de cinema que privilegio em 2023, é porque ainda tenho as cicatrizes estomacais bem presentes desse murro fílmico no dito órgão que é o final do "Aftersun".
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