Talvez a única coisa boa que um mercado cinematográfico sobressaturado de filmes de super-heróis distribuídos pela Disney tenha trazido seja o estímulo à diferenciação na concorrência. Se estúdios de relativa menor dimensão querem encontrar sucesso artístico, crítico e financeiro, sem recorrerem à estratégia de serialização "ad infinitum" que caracteriza o MCU, são forçados a puxar pela criatividade, pelo risco e pela experimentação. Como tal, "Logan" (FOX) foi beber a sua inspiração aos westerns cansados de Clint Eastwood, "Joker" (Warner Bros. / DC) ao cinema desconfortável da Nova Hollywood e "Spider-Man: Into the Spider-Verse" (Sony) aos filmes psicadélicos dos anos 60 e 70.
A sequela deste último mantém a tendência do original e continua a elevar as potencialidades do cinema de animação para patamares arrojados e estilisticamente anárquicos, misturando correntes pictóricas tão diferentes como impressionismo, arte de rua ou "pop art", e fazendo uso de dispositivos cinematográficos tão diversificados como "split screens", "jump cuts" ou inversões do eixo horizontal de câmara. Se é grande cinema (e, para mim, é), fica a cada um fazer essa avaliação. Mas creio que é consensual que se trata, pelo menos, da maneira mais saudável, barata e segura de ter uma "trip" psicadélica.
Spider-Man: Across the Spider-Verse (2023), Joaquim Dos Santos, Kemp Powers e Justin K. Thompson
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