Há 20 anos, começava um pequeno abanão na blogosfera lusitana que, pouco tempo depois, se expandiria sob a forma de um estrondoso terramoto para a realidade portuguesa inteira. Um terramoto caracterizado por frases que o tempo se encarregou de tornar parte da cultura popular ("Falam, falam, falam, falam.", "Qual papel? O papel.", "Eu vou chamar o sr. Tobias") e por personagens inolvidáveis que tão bem sumarizam alguns dos maneirismos cómicos ainda encontrados por este país (o Gajo de Alfama, o Professor Chibanga, o-homem-a-quem-aconteceu-não-sei-o-quê).
É uma aproximação subjectiva sem qualquer rigor estatístico, mas os anos mostraram-me que 4 em cada 5 rapazes "millenials" tiveram parte da personalidade influenciada pelo Gato Fedorento. Está na ironia, no tom, na escolha das palavras, no modo como sabem que (perdoai-me o plágio, Gertrude Stein) "uma piada é uma piada é uma piada" e que nenhum tema é demasiado sério para ser exclusivamente levado a sério. O outro tipo desses 5 é o perdigueiro melindroso, incapaz de ver um sketche humorístico sem procurar pelo mínimo indício de odor problemático que o faça latir "homofobia!", "transfobia!", "xenofobia!", entre outras tantas "obias" que cerceiam o que pode e deve ser a comédia. Infelizmente, uma geração depois (ou terão sido apenas as redes sociais?), as proporções parecem ter-se invertido, e hoje, em cada esquina internáutica, lá ronda um polícia da virtude com o livro de multas moralistas sempre pronto a utilizar, lembrando-nos, no seu discurso de PIDE do politicamente correcto, que "não, senhor, piadas é só sobre quem está no poder".
Sei que o Dia da Liberdade é só depois de amanhã, mas olhem, para mim, a liberdade está também em fazer-se humor sobre tudo. Por isso, não levem a mal que também seja hoje que a celebre.
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