«Pensava quase com espanto: "É ela", como se de repente nos mostrassem exteriorizada diante de nós uma das nossas doenças e não a achássemos semelhante ao que sofremos. "Ela", tentava Swann perguntar o que era; pois há uma semelhança entre o amor e a morte, mais do que essas tão vagas que sempre se repetem; fazer-nos interrogar mais a fundo, no medo de que a sua realidade se oculte, o mistério da personalidade. E aquela doença que era o amor de Swann de tal modo se multiplicara, esse amor estava tão estreitamente ligado a todos os hábitos de Swann, a todos os seus actos, ao seu pensamento, à sua saúde, ao seu sono, à sua vida, até àquilo que desejava depois da morte, era de tal modo um só com ele, que não seria possível arrancá-lo sem o destruir a ele quase por completo: como se diz em cirurgia, o seu amor já não era operável.»
Em Busca do Tempo Perdido: Do Lado de Swann, Marcel Proust. Tradução de Maria Gabriela de Bragança.
Swann in Love (1984), Volker Schlöndorff |
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