quarta-feira, 5 de novembro de 2025

O aumento de impostos pode levar à saída de empresas da cidade, comprometendo a economia local e o número de postos de emprego. O congelamento de rendas pode resultar em casas delapidadas e abandonadas, reduzindo a oferta no mercado. E a gratuitidade de autocarros pode ameaçar a manutenção de frotas e a continuidade de carreiras.

Recomendaria muito mais prudência (e uns quantos manuais de economia) aos que hoje celebram entusiasticamente a vitória de Mamdani em Nova Iorque. 

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

De quando em vez, nos intervalos entre as costumeiras catilinárias contra a Rádio Observador e os enésimos desabafos sobre a "cloaca das redes sociais" (pesquisem a expressão assim, entre aspas, no Google e comprovem como não exagero), o Pacheco Pereira ainda se mostra capaz de grandes momentos de televisão.

domingo, 2 de novembro de 2025

Colocando alguns "filmes do ano" do ano passado em dia, cheguei finalmente ao "Challengers". Sucintamente, gostei. Achei estiloso, barroco, virtuoso, electrizante, sensorial, entre tantos outros lisonjeiros adjectivos que muitos críticos já aplicaram. E, no entanto, contrariamente ao que alguns deles também afirmaram, não o achei sexy. Lamento imenso, mas a Zendaya, com aquela cara de menina com a puberdade por resolver, parece a irmã mais nova de toda a gente. E por isso, nas cenas mais quentes do filme, ao invés de me sentir envolvido, dei por mim a questionar se a jovem já era maior de idade para entrar nelas, enquanto olhava de soslaio para a porta, temeroso de que a polícia me entrasse pela casa adentro.

Será um neologismo que, suspeito, se tornará recorrente ouvir nos próximos tempos. O que não implica a ausência de soluções para o combater. Alguns dos jantares universitários mais felizes de que guardo memória não foram passados em restaurantes nem em espaços de restauração chiques, mas simplesmente na casa de amigos com quarto arrendado em Lisboa, aonde nos deslocávamos facilmente, após mais um dia de aulas, com pizzas do Pingo Doce de menos de 3€ e uma ou outra volumosa garrafa de refrigerante. Como era fácil dividir as despesas associadas entre todos, não havia a pressão social de retribuir o convite nos respectivos lares de cada comensal. Anos depois e com todos em situações financeiras mais confortáveis, não veria qualquer problema em repetir a experiência. E se a pizza do Pingo Doce não é a opção de valor nutricional mais apetecível, há sempre a hipótese criativa (e arriscada, reconheço) de organizar jantares feitos de magic boxes da "Too Good To Go".






sábado, 1 de novembro de 2025

Boa Política Boa Mesa

Já sabia da recomendação de restaurantes no programa de comentário político do Isaltino Morais no canal Now, "Isaltino no Now". Mas o mais original não é isso. É o segmento que o antecede, onde classifica vários acontecimentos marcantes da semana recorrendo a termos gastronómicos. No caso de ontem, a aprovação do próximo orçamento de Estado saiu "No ponto", a campanha eleitoral para as presidenciais de André Ventura soube a "Azeda" e o desempenho de Mariana Mortágua na liderança do Bloco ficou "Insonso". Justificar-se-ia a renomeação do programa para "Boa Política Boa Mesa".

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

"Protuberâncias soberbas, doces convexidades"

No último "Assim vamos ter de falar de outra maneira", é abordada uma questão querida a muitos rapazes de qualquer geração: "Quando viste o primeiro par de seios na tua vida?" Os intervenientes apontam filmes e séries visualizados na adolescência. No meu caso? Comparado com eles, fui mais precoce, tendo tido uma infância nesse aspecto felizarda graças a outro tipo de entretenimento também popular numa era pré-internet: genéricos de telenovelas da TVI.  

Duvidam? Então, abram uma janela no youtube, façam uma maratona deles e deixem-se surpreender com a quantidade de seios que por lá pululam:

  • "Jardins proibidos"? Seios sob vales florescentes. 
  • "Baía das Mulheres"? Seios flutuando no interior de bolhas aquáticas.
  • "Anjo Selvagem"? Seios revelados ao ritmo de queda de um lençol azul.
  • "Olhos de água"? Seios numa criatura surrealista meio-árvore, meio-mulher.
  • "Queridas feras"? Seios num corpo despido dançando em cenário pouco iluminado. 

Até ao "Tu e Eu", duas coisas estavam praticamente asseguradas nos genéricos das telenovelas do canal 4: estética kitsch e maminhas ao léu. Andavam alguns da minha geração esperando pacientemente que os pais saíssem de casa para usurpar a cassete do "Titanic" e fazer "fast-forward" para uma certa cena, quando, afinal, bastava apenas ser bom filho e fazer companhia à mãe todas as noites durante um breve minuto. Um minuto que, recorde-se, passava em horário nobre e sem bolinha. O que safou a estação de Queluz de Baixo foi não haver redes sociais na altura.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

O Ruy Belo é que a sabia toda

Enviaram-nos o email a informar de que tínhamos ficado com a casa na quarta-feira. Já sabíamos que éramos os finalistas juntamente com um casal que iria recorrer ao crédito de habitação jovem. No entanto, o facto de não termos acesso ao referido crédito e, portanto, de apresentarmos capitais próprios para a entrada, decidiu a nossa prioridade. Ficámos simultaneamente felizes e apreensivos. Por um lado, num mercado hipervalorizado onde o preço chega aos 3500€/m2 na zona, algo a pouco menos de 2000 parecia um verdadeiro achado. Mas, por outro, a confiança em prosseguirmos ainda não era completa. 

Respondemos a pedir uma segunda visita com os pais de C. para ouvirmos a voz da experiência. Falámos com eles, em privado, no final para lhes pedir a opinião. Se achavam que seria algo acertado nesta fase. Se achavam que seria uma boa compra. Se achavam que estávamos a tomar a decisão certa. Mostrámos fotos à minha mãe e colocámos as mesmas questões. Todos diziam-nos o mesmo: "Sim, sim! Está aqui um bom trabalho. A casa é bonita e espaçosa. Mais vale aproveitarem e, se mais tarde se arrependerem, podem sempre vendê-la." Ainda assim, estávamos inseguros. Os degraus das escadas pareciam-nos pequenos. A localização podia ser melhor. E aquela mancha de humidade no tecto à porta de casa não seria sinal de uma infiltração que nos havia escapado?

Foi então que nos apercebemos. Estávamos à procura de pretextos para não ficarmos com ela, possuindo a ténue esperança de que alguém nos providenciasse essa validação externa. Não é bom sinal quando uma compra desta envergadura é feita com base no medo e não na certeza. Respondemos ao agente da imobiliária a agradecer-lhe o tempo e a simpatia, mas que, após considerável reflexão, íamos deixá-la passar. Ele foi compreensivo. Espero que os miúdos do crédito habitação jovem sorriam quando souberem da nossa desistência. 

Mesmo que o mercado providencie oportunidades apetecíveis, e mesmo que uma pessoa tenha recursos para as agarrar, há um factor difícil de mitigar num casal de classe média à procura da primeira casa: o peso da responsabilidade que advém com um compromisso a longo prazo como é o de contrair um empréstimo para ela. Continuaremos à procura dentro de uns meses, enquanto, por fim, compreendo a sabedoria que reside no único verso do Ruy Belo que trago decorado há anos: "E uma casa é a coisa mais séria da vida."