quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

"Vai ver o Wicked!", "Porque é que não vais ver o Wicked?", "Vê lá o Wicked!"

Caros, a ver se nos entendemos, independentemente da qualidade do dito objecto cinematográfico (que não ponho em causa), não vou ver o "Wicked" pela mesma razão que não vi qualquer "Dune" ou "Horizon": porque não quero dar um bilhete inteiro para ver um meio / um terço / um quarto de filme. Parte do apreço que nutro pelo cinema está na sua capacidade concisa de contar histórias, não necessitando de um formato de serialização que impinge ao espectador a necessidade de um retorno forçado à sala para obter uma narrativa completa. Dispenso gorduras acessórias (diálogos, cenas, personagens, enredos) que levam à hipertrofia ficcional porque, para isso, já existe a televisão. Entenda-se: é menos uma objecção ao filme em si do que ao modelo de negócio que o sustenta. Mas estou disposto a ir ver qualquer um dos títulos acima enunciados se me cobrarem o preço adequado de um meio / um terço / um quarto de bilhete.

Dito isto, aproveitei o relativo entusiasmo colectivo em torno do dito cujo para riscar esta entrada da lista dos "filmes a ver" que tinha pendente há anos, nomeadamente desde que descobri que o Walter Murch é uma das pessoas mais interessantes a falar sobre cinema (sobretudo, do processo da montagem, como o compravam os deliciosos livros "In the blink of an eye" e "The conversations") e que esta foi a sua única aventura na realização. Não é perfeito, mas também não é merecedor do parcial olvido a que parece ter sido destinado. No meio desses extremos, das várias apreciações justas a que se possa a ele tecer, salienta-se uma inesperada revelação: Murch é o elo que faltava para unir Jim Henson a Tim Burton. Que saudades de uma Disney negra e sem medo de traumatizar criancinhas (lembram-se do "Taran e o Caldeirão Mágico"?) como foi a dos anos 80.

Return to Oz (1985), Walter Murch

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