quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Civismo, cordialidade e respeito mútuo. O elogio aberto às palavras convincentes do adversário e a manifestação de pesar pelas suas tragédias pessoais. A demonstração desembaraçada de pontos onde há concordâncias, assim como da eventual possibilidade de construir diálogo onde há divergências. Um debate substantivo alicerçado numa constante e compartilhada eloquência. 

Perante tamanho cenário reavivador do espírito bipartidário basilar da democracia americana, só uma frase me acomete o espírito: "Mas que é isto, pá?" Onde estão os insultos? Onde está o olhar de desprezo e o sorriso escarninho pelo argumentário do oponente? Onde está a visão maniqueísta, simplista, reducionista, feita de preto-e-branco, "Eu sou dos bons, tu és dos maus, não nos misturemos"? Onde estão os momentos hilários de delirantes teorias conspirativas para colocar isoladamente a propagar em massa nas redes sociais, reduzindo as eleições presidenciais a um "reality show" ligeiramente mais sofisticado? Não foi para isto que me levantei mais cedo. Esperemos que Donald Trump dê as devidas represálias ao seu candidato a vice, assim como uma lição sobre retórica polarizadora e de baixo nível. Caso contrário, corre-se o risco de se estar a dar o exemplo errado aos eleitorados do mundo inteiro: a de que é ainda possível, no século XXI, falar sobre política de forma racional e séria.

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