Quando tinha 10 anos, tive na escola a cadeira de Área de Projecto que consistia na divisão da turma em vários grupos que teriam de trabalhar um tema em comum, apresentando, no final do ano, um trabalho sobre ele. Nesse ano lectivo (o meu 5º), o tema foi "cinema". Estava a léguas de saber o que isso era (francamente, ainda estou, mas já não entro em pânico por isso). Para mim, cinema era o Indiana Jones, o Star Wars, e os filminhos de super-heróis que lá ia ver, todos os Verões, com o meu pai ao Oeiras Parque ou ao Cascais Shopping. No dia em que o tema foi atribuído, cheguei a casa e pedi ao meu pai ajuda porque não sabia mesmo em que me estava a meter. Ele saiu para ir à fnac e, quando voltou, trouxe este filme. Vi-o e fiquei boquiaberto. Como podia algo tão curto (50 min), sem efeitos especiais, a preto-e-branco e, para mais, mudo, conseguir ser tão forte, tão bonito, tão cómico e, ao mesmo tempo, tão comovente ("um filme com um sorriso e talvez uma lágrima", era assim que começava, e com razão)?
Foi o princípio daquilo a que poderei chamar a minha "cinefilia". Nas semanas seguintes, fui vasculhando e abrindo a colecção de DVDs clássicos que ainda habita cá em casa. Mais Chaplin, sim, mas também o Bogart, o Gone with the Wind e também os principais Coppolas, vieram-me todos parar às mãos por ela. O tempo passou, e quando já conhecia a colecção de trás para a frente, fui eu enriquecendo-a com as descobertas que ia fazendo por outras vias. Mas nunca deixei este filme. Revi-o com colegas de escola, amigos e, quando foi reposto em sala há uns anos, com a minha namorada da altura. No meio da transitoriedade de todas essas relações, ele permaneceu, ao nunca deixar de me causar o mesmo "impacto" com que o descobri. É por isso que é o meu número 1. Continuo a revisitá-lo, de quando em vez.
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