Se é facto ou lenda, não sei, mas é o que está impresso.
Após a visualização de uma versão de Sunrise (Aurora, 1927) ainda em fase de pós-produção, John Ford afirmou numa entrevista que, não só esse era o maior filme alguma vez produzido, como acreditava veementemente que não surgiria um melhor nos 10 anos seguintes. Dito isto, partiu numa viagem a Berlim onde se encontrou com Murnau, o qual lhe ensinou alguns dos seus métodos de filmar. Motivado com as suas lições, qual aluno entusiasmado, o cineasta americano quis imediatamente aplicá-las, fazendo do seu filme seguinte uma homenagem ao mestre alemão. O resultado foi Four Sons (Os Quatro Filhos, 1928), drama onde os quatro discípulos do título partem para a Primeira Guerra (três para combater pela Alemanha, o último pela América) e é, para alguns, "o maior filme de Murnau não realizado por Murnau".
Onde começa a homenagem? Na fluidez dos travellings (mais abundantes que o habitual na filmografia Fordiana), no próprio enredo que parte de uma família alemã, na personagem do carteiro que bem poderia ser a de Emil Jaggins antes dos eventos de Der Letze Mann (A Última Gargalhada, 1924) e, finalmente, na força expressionista das fontes luzentes, prova da formação da viva personalidade vanguardista de Ford ("Lighting, as a matter of fact, is my strong point (...) my one boast", como disse em entrevista) que haveria de ficar manifestada de forma mais adensada nos mais célebres The Informer (O Denunciante, 1935) e The Fugitive (O Fugitivo, 1947).
Mas… ver a fraternidade que percorre a comunidade da aldeia germânica (o olhar prevalecente de Ford sobre "o coletivo", ao invés de "o indivíduo"), o uso da dança como ritual celebrativo e unificador da mesma (como em My Darling Clementine (A Paixão dos Fortes, 1946)), o impacto que exercem na memória as cenas de refeição (como em How Green Was My Valley (O Vale Era Verde, 1941)), o elo familiar afectado pela partida das entidades filiais para a guerra, bem como as suas repercussões na figura materna que fica (como em Pilgrimage (Peregrinação, 1933)), um não duvida da autenticidade do seu autor.
Four Sons é, assim, não "um filme de Murnau não realizado por Murnau", mas um filme de Ford que não deixa de ser uma homenagem a Murnau. E se houver dúvidas quanto à autenticidade nesta afirmação, basta pegar no lamento carregado do humanismo Fordiano que um dos soldados americanos solta quando, agachado nas trincheiras, ouve um inimigo alemão a chamar pela mãe: "I guess those fellows have mothers too..." É a frase para acabar com todas as guerras.
Após a visualização de uma versão de Sunrise (Aurora, 1927) ainda em fase de pós-produção, John Ford afirmou numa entrevista que, não só esse era o maior filme alguma vez produzido, como acreditava veementemente que não surgiria um melhor nos 10 anos seguintes. Dito isto, partiu numa viagem a Berlim onde se encontrou com Murnau, o qual lhe ensinou alguns dos seus métodos de filmar. Motivado com as suas lições, qual aluno entusiasmado, o cineasta americano quis imediatamente aplicá-las, fazendo do seu filme seguinte uma homenagem ao mestre alemão. O resultado foi Four Sons (Os Quatro Filhos, 1928), drama onde os quatro discípulos do título partem para a Primeira Guerra (três para combater pela Alemanha, o último pela América) e é, para alguns, "o maior filme de Murnau não realizado por Murnau".
Onde começa a homenagem? Na fluidez dos travellings (mais abundantes que o habitual na filmografia Fordiana), no próprio enredo que parte de uma família alemã, na personagem do carteiro que bem poderia ser a de Emil Jaggins antes dos eventos de Der Letze Mann (A Última Gargalhada, 1924) e, finalmente, na força expressionista das fontes luzentes, prova da formação da viva personalidade vanguardista de Ford ("Lighting, as a matter of fact, is my strong point (...) my one boast", como disse em entrevista) que haveria de ficar manifestada de forma mais adensada nos mais célebres The Informer (O Denunciante, 1935) e The Fugitive (O Fugitivo, 1947).
Mas… ver a fraternidade que percorre a comunidade da aldeia germânica (o olhar prevalecente de Ford sobre "o coletivo", ao invés de "o indivíduo"), o uso da dança como ritual celebrativo e unificador da mesma (como em My Darling Clementine (A Paixão dos Fortes, 1946)), o impacto que exercem na memória as cenas de refeição (como em How Green Was My Valley (O Vale Era Verde, 1941)), o elo familiar afectado pela partida das entidades filiais para a guerra, bem como as suas repercussões na figura materna que fica (como em Pilgrimage (Peregrinação, 1933)), um não duvida da autenticidade do seu autor.
Four Sons é, assim, não "um filme de Murnau não realizado por Murnau", mas um filme de Ford que não deixa de ser uma homenagem a Murnau. E se houver dúvidas quanto à autenticidade nesta afirmação, basta pegar no lamento carregado do humanismo Fordiano que um dos soldados americanos solta quando, agachado nas trincheiras, ouve um inimigo alemão a chamar pela mãe: "I guess those fellows have mothers too..." É a frase para acabar com todas as guerras.
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