A última aparição pública de John Wayne foi quando entregou o Óscar de melhor filme em 1979 a O Caçador (exactamente 2 meses e 2 dias antes da sua morte). À procura desse momento, encontro a versão completa dos últimos 10 minutos da cerimónia, onde um Wayne elegantíssimo desce as escadas com uma alegria de quem sabe que a cidade precisa do seu xerife confiante a cada manhã para estar em completo sossego. E é absolutamente avassaladora, sem deixar de ser comovente, a forma como mantém essa postura mesmo no seu discurso proferido com um pulmão e 4 costelas a menos: "Vou estar cá por muito mais tempo." As suas derradeiras palavras para uma câmara, um good night enrouquecido e abafado pelo som dos aplausos, à medida que sai do enquadramento com as palmas das mãos para baixo e polegares enfiados no colete formal. Um cowboy durão até ao fim. Acredito que o Ford havia de estar a ver isto com o charuto no canto do lábio e a pensar "meu sacana, não sabia que eras capaz de apresentar", lá na sua colina do Monument Valley onde vive e tudo vê.
Mas dizia, encontrei a versão completa e qual não é o meu espanto quando, uns minutos antes deste momento, me deparo com o Coppola pré-bezanas prestes a entregar o prémio de realização e a dizer com uma confiança que hoje é impossível escutar sem abanar a cabeça, em tom condescendente: "Vejo uma revolução! Acredito que nos anos 80 os filmes produzidos estarão para além dos nossos sonhos!" Ah, a ironia...
Dito isto, esqueci-me se o propósito deste post era falar do Wayne ou da Nova Hollywood, mas admiro que em 10 minutos tanto o Duque como o Padrinho tenham feito o melhor que as suas artes permitiam: criar a ilusão de que o que se estava a assistir era o sinal de algo grandioso e que só viria a melhorar com os anos. Mentiras necessárias para fazer acreditar que, tanto na vida como no cinema, vale sempre a pena ficar à espera. Sinais de esperança, vindos em últimos hurrahs. Ainda hoje precisamos deles.
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